28 de novembro de 2013

eu, confesso


Há menos de uma semana, aceitei a empreitada da editora Eliana Gagliotti para escrever quatro textos curtos para apresentação dos contos de Edgar Allan Poe adaptados para história em quadrinhos (DCL). Apenas não imaginava a aventura que isso ia dar...

Poe é daqueles escritores que muitos já ouviram falar, conhecem por citações, mas poucos se detiveram em seus textos. Comigo assim tem acontecido, sem me livrar de um livro ou jamais ter concluído a leitura do volume CONTOS DE TERROR, MISTÉRIO E DE MORTE, trad. Oscar Mendes, que carrego há anos. Eu, confesso. Sempre fui um leitor relapso com Edgar Allan Poe. 

Mas é preciso me desculpar: algo se fixou tão presentemente à minha imaginação para sentir aquele estranho fascínio de felicidade, a partir de uma cena do filme A queda da casa de Usher que minha mãe narrou durante um almoço: deveria ter uns oito anos e mentalmente vi muito bem toda a cena em branco e preto... Já nos dias de colegial, ouvi os comentários de Yolanda Matsuda sobre a composição do nome familiar US-SHE-HE-HER e reconheceria, anos mais tarde, as análises de Décio Pignatari, sim, o professor da professora. Persistentemente, o minimalismo e as imagens outonais sobre THE FALL OF THE HOUSE OF USHER me ajudaram a povoar o silêncio com a ópera de Philip Glass. E, claro, li o conto em língua portuguesa e no original em inglês, entre bem poucas outras histórias. Ainda não encontrei, oh Lady Madeline, o filme que minha mãe me contava.

Há, no entanto, algo crível em escrever a respeito de Edgar Allan Poe, procurando os contos ainda não lidos, em minha biblioteca, e procurando retratos de Edgar em daguerreótipos e procurando, enfim, as formas como o autor tem sido visto em diferentes, mas não tão diferentes, biografias! Poe nasceu em 19 de janeiro de 1809. Poe morreu em 07 de outubro de 1849, cento e vinte anos antes de eu nascer, nesse mesmo dia! A coincidência me deu medo? Não. Provocou mesmo o entusiasmo para procurar outras coincidências – e, obviamente, haveria de encontrá-las para criar um ambiente de tardia intimidade com ele (Who the hell is Edgar?).

Busquei também os ensaios críticos de Edgar Allan Poe. Escrevi os textos encomendados – e não sei se a editora virá aceitar o jogo em primeira pessoa, como faria o escritor, confundindo o homem com o personagem narrativo. Em dois dias, arrisquei traduzir um de seus poemas e, na contramão dos juízos comuns, descubro que Allan Poe trabalhou bem mais com cores e luzes do que pressupõe o consumo midiático. Talvez eu tenha aí encontrado um novo caso de admiração possessiva. Eu, confesso. PETER O.SAGAE

* * * 

Retrato de Edgar Allan Poe, quando jovem, em uma rara ambientação romântica; trata-se de uma miniatura pintada em aquarela por John A. McDougall, ca. 1846 (The Huntington Library).

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