20 de agosto de 2021

a casa da madrinha

dobrasdaleitura | E minhas viagens com Lygia Bojunga durante este inverno terminam onde começam os caminhos para chegarmos até A CASA DA MADRINHA (1978). O livro agora me fez pensar na velocidade da voz e das imagens numa trama que tem lugar quando duas ou mais histórias aí se encontram. Pois aconteceu de Alexandre partir das praias de Copacabana e Ipanema, onde vendia biscoito e sorvete aos domingos, e depois sábado, e depois a semana quase inteira, deixando pra trás a escola e o barraco da família. O menino caminhou, caminhou muito para chegar à metade do caminho — lá encontrou o Pavão que nasceu num outro país, mas deixou-se capturar por homens que apenas faziam explorar sua beleza e forçaram sua matrícula numa escola onde conseguiram filtrar suas ideias, falas e ações. Depois conheceu João das Mil e Uma Namoradas, partiu num navio e tudo foi uma pena só. Chegou ao Rio de Janeiro, encalhou um tempo no zoológico, em escola de samba, em mansão de gente fina: depois ele tava estrada afora.

Alexandre e Pavão se encontraram naquele meio das viagens que inventam ser uma história nova — e juntos montam um espetáculo saltimbanco. Numa apresentação à sombra de uma mangueira, conhecem Vera que está na plateia à espera de viver uma vida verdadeira. Mas o que é uma aventura senão o emaranhado de narrativas, caminhos por água, terra, sol e lamento que fazem cada um ser o seu próprio herói? A casa da madrinha, descobriremos, fora erguida pelas palavras de Augusto, irmão mais velho de Alexandre, mais a escuta ansiosa do menino, o eco maravilhoso de uma ave cheia de penas, a desconfiança de uma menina à espera de viver... uma vida em outro plano da realidade! Tomemos um fio: os nomes desses personagens: fortes, simples, claros, evocando manchetes e odisseias que fazem da arte de narrar a garantia para continuarem e continuarmos existindo por onde os sonhos se mesclam, numa casa de quatro janelas para diferentes paisagens, com uma porta azul, com uma flor amarela no peito, com uma chave dentro... Da voz e das imagens, a narrativa é uma cavalgadura!

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