Dobras da Leitura recebeu
Reencontro André morando agora em São Paulo, mas ele deverá estar passando suas férias pelo interior de Minas Gerais, onde nasceu. Isso porque é janeiro. Se ele, que é hiper-urbano e rural, não perde um feriado qualquer para se meter no sítio dos parentes, imagine se não iria correndo para lá durante esse verão, buscando histórias para recontar...
Quer descobrir que graça há em ficar esperando assombração abrir a porteira, em dias de chuva, ouvindo o tamborilar das gotas no teto e o galinheiro despencar lá fora? Acompanhe, então, as viagens de André nas páginas de Histórias mal-assombradas do CAMINHO VELHO DE SÃO PAULO, com bolinhos de chuva para comer em uma tarde durante a Quaresma, e através das Histórias mal-assombradas de PORTUGAL E ESPANHA, na companhia de três tias excêntricas no feriado dos Finados – quarto e quinto volumes da série de Adriano Messias, com ilustrações de Alexandre Teles (Biruta, 2008 e 2010).
Leia também as resenhas para os volumes iniciais da série:
* Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha (2004)
* Histórias mal-assombradas do tempo da escravidão (2005)
* Histórias mal-assombradas de um espírito da floresta (2006)
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12 de janeiro de 2015
3 de dezembro de 2013
um roteiro espetacular
O’ABRE ALAS, digo, ASPAS
Entre os livros de imagem que passam a contar com dois autores: um que trabalha com o roteiro da história e outro que a ilustra, UMA NOITE ESPETACULAR, de Adriano Messias e Anna Laura Cantone (Positivo, 2013), exemplifica o melhor dessa tendência. No ritmo de muito humor, fazendo uso criativo do suporte material e da forma como virar as páginas, a narrativa inicia-se ao pé de uma árvore e uma porção de olhinhos ainda sonolentos vão cintilando aqui e ali, como
a coruja que acorda na toca,
os caricatos guaxinins narigudos de caudas listradas,
o caracol...
o esquilo...
e o morcego carregando uma mala
para o alto...
O que o leitor descobre, vez ou outra, é que um livro de imagem brinca também com a sonoridade das palavras em relação às figuras que exibe, aos nomes de personagens e seus atributos dentro da narrativa.
Entre os livros de imagem que passam a contar com dois autores: um que trabalha com o roteiro da história e outro que a ilustra, UMA NOITE ESPETACULAR, de Adriano Messias e Anna Laura Cantone (Positivo, 2013), exemplifica o melhor dessa tendência. No ritmo de muito humor, fazendo uso criativo do suporte material e da forma como virar as páginas, a narrativa inicia-se ao pé de uma árvore e uma porção de olhinhos ainda sonolentos vão cintilando aqui e ali, como
a coruja que acorda na toca,
os caricatos guaxinins narigudos de caudas listradas,
o caracol...
o esquilo...
e o morcego carregando uma mala
para o alto...
O que o leitor descobre, vez ou outra, é que um livro de imagem brinca também com a sonoridade das palavras em relação às figuras que exibe, aos nomes de personagens e seus atributos dentro da narrativa.
*
6 de agosto de 2010
uma prosa com almas vivas
por Peter O'Sagae
Sabe conversa de mineiro? Tem sempre uma história que a gente não põe muita fé, não, mas fica de ouvido atento para ver aonde é que vai dar. Pois esse livro é feito ânsim: um tirico de prosa e literatura com o André, um menino-escritor muito maneiro que, nas férias e nos feriados, deixa o cinza de Belo Horizonte para se enfiar vereda adentro no sítio de seus avós — além da cidade de Lavras, a caminho de uma cidadezinha chamada Ijaci, ambas no Sul de Minas [...] entra-se por uma estradinha de terra que ninguém vê — nem o carteiro, podem acreditar —, a qual é chamada Estrada Sitiotopia. Não há placa, nem setas, nem numeração para lugar algum e, se por acaso um andarilho se aventurasse por lá, andaria em círculos até dar novamente de caras com a estrada principal, a asfaltada.
Pois, nesse lugar, meio distante, meio perto, André ouve histórias em volta do fogão de lenha, por uma madrugada toda na companhia de seu avô — e anota as principais passagens e informações para escrever, depois, aqueles mesmos causos. De Lobisomem. Da Mãe d'Água. Do Saci Pererê. E outras mais: como você nunca ouviu! Imagine tirar os olhos de um gato preto e colocá-los dentro de um ovo de galinha preta, guardando-o no estrume de cavalo, para o prazo de um mês, nascer um pequeno, mágico e traiçoeiro d’um coisa ruim... Ou então, ouvir passar (e rezar para que passe bem depressa) a procissão dos mortos à porta de sua casa? E, sabe, uma vez houve uma mulher que abriu a janela... Coisas deste e do outro mundo vivem em uma zona de quase prelúdio, entre a claridade e a escuridão, e já não são raras as oportunidades em que se encontram.
Adriano Messias inventou André e tomou partido das lendas, um gênero da literatura da tradição oral em que ocorre a intrusão de elementos sobrenaturais no cotidiano ordinário das gentes, criando assim uma espécie de twilight zone brasileira. Seu texto é galopante — ou, melhor dizendo e para ficar no clima —, vem no verdadeiro martelo do Infame e outros assombramentos. Contrariamente a que vem sendo feito desse material narrativo, congelado no tempo como contos de mentiroso ou curiosidade folclórica, Adriano Messias promove um trânsito instigante entre a presença do contador de causos que tudo viu e os suportes da linguagem escrita, sejam impressos, sejam virtuais. Pois André ouve e lê tudo com demasiado interesse e atenção. Eta bichim!
Mesmo que você diga que essas histórias são manjadas e não assustam mais vivalma, fica o convite para a leitura, de preferência numa longa e fria madrugada com seus estranhos visitantes. E pode, sim, discretamente persignar-se. Dominus vobiscum.
* Histórias mal-assombradas EM VOLTA DO FOGÃO DE LENHA,
de Adriano Messias, il. Márcia Széliga (Biruta, 2004) 92 p.
Sabe conversa de mineiro? Tem sempre uma história que a gente não põe muita fé, não, mas fica de ouvido atento para ver aonde é que vai dar. Pois esse livro é feito ânsim: um tirico de prosa e literatura com o André, um menino-escritor muito maneiro que, nas férias e nos feriados, deixa o cinza de Belo Horizonte para se enfiar vereda adentro no sítio de seus avós — além da cidade de Lavras, a caminho de uma cidadezinha chamada Ijaci, ambas no Sul de Minas [...] entra-se por uma estradinha de terra que ninguém vê — nem o carteiro, podem acreditar —, a qual é chamada Estrada Sitiotopia. Não há placa, nem setas, nem numeração para lugar algum e, se por acaso um andarilho se aventurasse por lá, andaria em círculos até dar novamente de caras com a estrada principal, a asfaltada.
Pois, nesse lugar, meio distante, meio perto, André ouve histórias em volta do fogão de lenha, por uma madrugada toda na companhia de seu avô — e anota as principais passagens e informações para escrever, depois, aqueles mesmos causos. De Lobisomem. Da Mãe d'Água. Do Saci Pererê. E outras mais: como você nunca ouviu! Imagine tirar os olhos de um gato preto e colocá-los dentro de um ovo de galinha preta, guardando-o no estrume de cavalo, para o prazo de um mês, nascer um pequeno, mágico e traiçoeiro d’um coisa ruim... Ou então, ouvir passar (e rezar para que passe bem depressa) a procissão dos mortos à porta de sua casa? E, sabe, uma vez houve uma mulher que abriu a janela... Coisas deste e do outro mundo vivem em uma zona de quase prelúdio, entre a claridade e a escuridão, e já não são raras as oportunidades em que se encontram.
Adriano Messias inventou André e tomou partido das lendas, um gênero da literatura da tradição oral em que ocorre a intrusão de elementos sobrenaturais no cotidiano ordinário das gentes, criando assim uma espécie de twilight zone brasileira. Seu texto é galopante — ou, melhor dizendo e para ficar no clima —, vem no verdadeiro martelo do Infame e outros assombramentos. Contrariamente a que vem sendo feito desse material narrativo, congelado no tempo como contos de mentiroso ou curiosidade folclórica, Adriano Messias promove um trânsito instigante entre a presença do contador de causos que tudo viu e os suportes da linguagem escrita, sejam impressos, sejam virtuais. Pois André ouve e lê tudo com demasiado interesse e atenção. Eta bichim!
Mesmo que você diga que essas histórias são manjadas e não assustam mais vivalma, fica o convite para a leitura, de preferência numa longa e fria madrugada com seus estranhos visitantes. E pode, sim, discretamente persignar-se. Dominus vobiscum.
* Histórias mal-assombradas EM VOLTA DO FOGÃO DE LENHA,
de Adriano Messias, il. Márcia Széliga (Biruta, 2004) 92 p.
Bá Maria, com afeto e magia
por Peter O'Sagae
André novamente segue viagem para o sítio-que-ninguém-acha para mais e mais escutanças, ao lado da negra querida, a Bá Maria, amiga com mais de cem anos que nunca se casou e sempre adotou a criançada das redondezas como seus filhos. É com ela que vamos conhecer outra versão da história do moleque-boneco de cera, aquele mesmo que uma velha fez para vingar-se do macaco que comeu todas as suas bananas. Mas esta velha e boa história é apenas um aperitivo para forrar seu estômago para outros causos...
Tem armações do temível Quibungo, o ferrão quebrado do Caipora, a velha que não morria, o homem que queria ganhar sempre no jogo do facão e, por isso, fez um pacto com o Tinhoso — mais tantas outras histórias Bá Maria vai tirando do passado e filtra para os ouvidos do zinfio. Curioso, André envereda-se pela tênue fronteira das lendas, onde se equilibram imaginação e relíquias históricas.
No entanto, o livro todo não é dedicado à felicidade de sentir medo e tremer, desconfiando de que algum malefício espreita no breu da noite que silva e sibila... Espreguiço-me, mas não estou agora com sono. Peço a minha velha amiga para falar um pouco da escravidão para sairmos também da terra das assombrações por alguns momentos. Há tempos ela quis me fazer conhecer um pouco sobre os orixás, mas eu não tinha tido tempo em outras férias. E também era muito moleque, acho que não entenderia com a profundidade que só ela sabe ensinar as coisas.
Adriano Messias reverencia a ancestralidade yorubá — em um capítulo apenas. Embora venha com uma reduzida enumeração dos nomes e principais atributos dos infinitos orixás, o autor não reduziu o respeito à alma de tudo o que é habitado por mistérios. Além do mais, não é Adriano, mas o personagem André quem deixa a promessa de escrever um livro sobre os casos dos orixás... Quanto ao texto deste segundo volume de assombramentos, o autor “empírico” (isto é, o próprio Adriano) vai dispensando os travessões de falas e o que cai, nas mãos do leitor, é como um feature composto por diversas vozes e registros que funde as antigas narrativas às emoções de André, a narração aos comentários explicativos, os diferentes narradores — sem jamais perder o fio da história.
Pois bem: André sabe que os dias serão sempre curtos e, disposto a estender a noite, atravessa o terreiro da casa da avó até a casinha da negra; os braços cruzados sobre o peito, mas cheio de coragem para ingressar em um mundo fascinante. Ao longe, pios e assobios, um bode (será bode?) bééérra... e ainda ameaça tempestade. Eparrêi, Iansã!
* De Adriano Messias,
Histórias mal-assombradas DO TEMPO DA ESCRAVIDÃO,
il. Andréa Corbani (Biruta, 2005) 116 p.
André novamente segue viagem para o sítio-que-ninguém-acha para mais e mais escutanças, ao lado da negra querida, a Bá Maria, amiga com mais de cem anos que nunca se casou e sempre adotou a criançada das redondezas como seus filhos. É com ela que vamos conhecer outra versão da história do moleque-boneco de cera, aquele mesmo que uma velha fez para vingar-se do macaco que comeu todas as suas bananas. Mas esta velha e boa história é apenas um aperitivo para forrar seu estômago para outros causos...
Tem armações do temível Quibungo, o ferrão quebrado do Caipora, a velha que não morria, o homem que queria ganhar sempre no jogo do facão e, por isso, fez um pacto com o Tinhoso — mais tantas outras histórias Bá Maria vai tirando do passado e filtra para os ouvidos do zinfio. Curioso, André envereda-se pela tênue fronteira das lendas, onde se equilibram imaginação e relíquias históricas.
No entanto, o livro todo não é dedicado à felicidade de sentir medo e tremer, desconfiando de que algum malefício espreita no breu da noite que silva e sibila... Espreguiço-me, mas não estou agora com sono. Peço a minha velha amiga para falar um pouco da escravidão para sairmos também da terra das assombrações por alguns momentos. Há tempos ela quis me fazer conhecer um pouco sobre os orixás, mas eu não tinha tido tempo em outras férias. E também era muito moleque, acho que não entenderia com a profundidade que só ela sabe ensinar as coisas.
Adriano Messias reverencia a ancestralidade yorubá — em um capítulo apenas. Embora venha com uma reduzida enumeração dos nomes e principais atributos dos infinitos orixás, o autor não reduziu o respeito à alma de tudo o que é habitado por mistérios. Além do mais, não é Adriano, mas o personagem André quem deixa a promessa de escrever um livro sobre os casos dos orixás... Quanto ao texto deste segundo volume de assombramentos, o autor “empírico” (isto é, o próprio Adriano) vai dispensando os travessões de falas e o que cai, nas mãos do leitor, é como um feature composto por diversas vozes e registros que funde as antigas narrativas às emoções de André, a narração aos comentários explicativos, os diferentes narradores — sem jamais perder o fio da história.
Pois bem: André sabe que os dias serão sempre curtos e, disposto a estender a noite, atravessa o terreiro da casa da avó até a casinha da negra; os braços cruzados sobre o peito, mas cheio de coragem para ingressar em um mundo fascinante. Ao longe, pios e assobios, um bode (será bode?) bééérra... e ainda ameaça tempestade. Eparrêi, Iansã!
* De Adriano Messias,
Histórias mal-assombradas DO TEMPO DA ESCRAVIDÃO,
il. Andréa Corbani (Biruta, 2005) 116 p.
até qualquer dia, dia de índio
por Peter O'Sagae
Quando retornava de sua última temporada na casa da avó, André conheceu Tucuxi. Prometeu voltar e voltou para conhecer as narrativas fantásticas que o índio, um dia muito distante, trouxe do norte. Remanescente de um grupo extinto, acumulou encantos, mitos e histórias das muitas tribos por onde passou, mais outras que viveu destino afora. E André, às vezes às voltas com seu silêncio de adolescente, leituras e fantasmas, começa o relato com uma vontade de ser índio, fugir dessas complicações da cidade grande. Pelo menos por algum tempo, ele quer mesmo caminhar pela mata...
Agora estão os dois ali, no afunilado do Rio Grande. Tucuxi é um homem carrancudo, não toca, nem abraça ninguém, mas sua maneira de olhar é muito mais que ver: é entender. As águas são testemunhas das dores e amores humanos, das entradas e saídas dos seres mágicos. E, no enrodilhado que molha, visagens surgem: a face sedutora de Iara, os olhos encovados da Ipupiara, pios de curupira e de inhambu se confundem, veja a vingança de anhangá, vira-porco, capelobo comedor de cérebro...
No terceiro livro da série, as histórias são tiradas durante o dia — dado o ofício de pescador do velho índio que, além de sábio, tem pegada de pajé. Adriano Messias investiu os personagens e o próprio texto com um sabor mais enciclopédico: « Certos índios, quando bem velhos, se transformam em mapinguaris e passam a viver sozinhos no secreto das florestas. São vistos por alguns como tendo quase dois metros de altura, muitos fortes e com peles como as do jacaré, só que mais grossas. Suas mãos, pés e dentes são grandes. Tem gente também que fala que um mapinguari é mais parecido com um grande macaco, tendo um olho no meio da testa e uma bocarra, que vai até a barriga. Outros ainda dizem que... »
Tucuxi não é como o bom selvagem, trocando histórias por uma ninhada de badulaques, muito menos sua imagem resulta domesticada por uma imaginação mediana — o personagem incorpora tradição oral, superstições e desmitificação, mais alguns conhecimentos linguístico; André também aparece mais enfronhado com leituras diversas, oportunamente comentando as narrativas que transcreve — e talvez não seja à toa, pense você, que seu nome completo seja mesmo André Villas Boas.
Dos encontros à beira do rio — que, logo desaparecerá sob a cheia de uma represa em construção, emerge o entendimento de que o mundo evolui enovelado por simultaneidades históricas, ou extraordinárias, cheio de assombramentos do presente a transformar o passado. E Tucuxi há de continuar seu próprio passo e caminho. Adeus, Anrati!
*
Histórias mal-assombradas de UM ESPÍRITO DA FLORESTA,
mais um livro de Adriano Messias,
il. Andréa Corbani (Biruta, 2006) 120 p.
Quando retornava de sua última temporada na casa da avó, André conheceu Tucuxi. Prometeu voltar e voltou para conhecer as narrativas fantásticas que o índio, um dia muito distante, trouxe do norte. Remanescente de um grupo extinto, acumulou encantos, mitos e histórias das muitas tribos por onde passou, mais outras que viveu destino afora. E André, às vezes às voltas com seu silêncio de adolescente, leituras e fantasmas, começa o relato com uma vontade de ser índio, fugir dessas complicações da cidade grande. Pelo menos por algum tempo, ele quer mesmo caminhar pela mata...
Agora estão os dois ali, no afunilado do Rio Grande. Tucuxi é um homem carrancudo, não toca, nem abraça ninguém, mas sua maneira de olhar é muito mais que ver: é entender. As águas são testemunhas das dores e amores humanos, das entradas e saídas dos seres mágicos. E, no enrodilhado que molha, visagens surgem: a face sedutora de Iara, os olhos encovados da Ipupiara, pios de curupira e de inhambu se confundem, veja a vingança de anhangá, vira-porco, capelobo comedor de cérebro...
No terceiro livro da série, as histórias são tiradas durante o dia — dado o ofício de pescador do velho índio que, além de sábio, tem pegada de pajé. Adriano Messias investiu os personagens e o próprio texto com um sabor mais enciclopédico: « Certos índios, quando bem velhos, se transformam em mapinguaris e passam a viver sozinhos no secreto das florestas. São vistos por alguns como tendo quase dois metros de altura, muitos fortes e com peles como as do jacaré, só que mais grossas. Suas mãos, pés e dentes são grandes. Tem gente também que fala que um mapinguari é mais parecido com um grande macaco, tendo um olho no meio da testa e uma bocarra, que vai até a barriga. Outros ainda dizem que... »
Tucuxi não é como o bom selvagem, trocando histórias por uma ninhada de badulaques, muito menos sua imagem resulta domesticada por uma imaginação mediana — o personagem incorpora tradição oral, superstições e desmitificação, mais alguns conhecimentos linguístico; André também aparece mais enfronhado com leituras diversas, oportunamente comentando as narrativas que transcreve — e talvez não seja à toa, pense você, que seu nome completo seja mesmo André Villas Boas.
Dos encontros à beira do rio — que, logo desaparecerá sob a cheia de uma represa em construção, emerge o entendimento de que o mundo evolui enovelado por simultaneidades históricas, ou extraordinárias, cheio de assombramentos do presente a transformar o passado. E Tucuxi há de continuar seu próprio passo e caminho. Adeus, Anrati!
*
Histórias mal-assombradas de UM ESPÍRITO DA FLORESTA,
mais um livro de Adriano Messias,
il. Andréa Corbani (Biruta, 2006) 120 p.
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