11 de abril de 2010

por um Olhar Lúdico na prática

por Peter O'Sagae

De Maria Zilda da Cunha,
Na tessitura dos signos contemporâneos: novos olhares para a literatura infantil e juvenil (Humanitas e Paulinas, 2009) 232p.


Da apresentação:

O trabalho tece reflexões sobre a literatura para crianças e jovens, como fenômeno estético, considerando sua complexidade e intrínseca relação com a cultura, com a história e a evolução social. Perspectiva que a compreende neste mundo representado por novas tecnologias comunicacionais e mediado por novas formas de produção de linguagem. Recorrendo às categorias cognoscitivas, apresentadas por Peirce, e incorporando estudos sobre as matrizes de linguagem e pensamento de Lucia Santaella, estudam-se três vetores de produção de linguagem: modo artesanal; processos mediados pela tecnologia; produções derivadas de matrizes numéricas. Nas sendas do literário, miram-se correlações da estética com a ética. O diálogo intertextual se faz presente em todo o trabalho e amplia-se na análise da tessitura dos signos em vozes e olhares da África com Octaviano Correia em seu livro O país das mil cores e em treze obras de Angela-Lago, em suas artes e experimentações literárias, no livro e na hipermídia.
Pois bem: tomando partido da natureza sempre cambiante e híbrida dos signos — sonoro visual e verbal —, Maria Zilda da Cunha propõe-se a observar as múltiplas e mútuas aprendizagens entre códigos e linguagens, o que a faz ampliar e definir o campo literário infantil contemporâneo de sua investigação, atenta [1] ao projeto artístico, à obra, à recepção criativa e [2] à própria transitoriedade dos suportes materiais da literatura. Essa constante em seus trabalhos é assim sintetizada pela pesquisadora (2007):
Antes da escrita, a literatura — arte da palavra — era indissociável da voz, da música; com a invenção da escrita e depois com o advento dos meios técnicos de impressão, ganha visualidade e seu desempenho nas páginas explora os tipos gráficos para a criação de sentidos; convoca para seu nicho de criação a imagem; hoje, com as novas tecnologias hipermidiáticas, encontra terreno fértil para novas experimentações e desenvolvimento.
Além de estabelecer e observar esses três paradigmas, o que realmente vem interessar à autora está nas fronteiras movediças e no adensamento de códigos que perpassa a obra de Angela Lago, dialogando com os contos da tradição oral na cultura livresca; olhando o livro na travessia das imagens e no entrecruzar de diferentes mídias; e ‘animando-se-aninhando’ nas sugestões dos ambientes virtuais.

Em todos os momentos desse percurso, Maria Zilda salienta aspectos que agenciam novos patamares de leitura na literatura para crianças, enquanto objeto de conhecimento e arte. Para isto, as categorias peirceanas sustentam o inquérito e as respostas de seu trabalho, numa dimensão onde os signos visuais, verbais e sonoros não mais se submetem a uma única lógica ou forma de compreensão (a lingüística, por exemplo, dominante em outras abordagens), nem percebidos de maneira estática, nem estratificados para a decodificação imediata. Conseqüentemente, exige-se uma conduta desentranhada dos condicionamentos pelo querer mais rápido e fácil, porque a leitura resultará em um trâmite de significados mais lúdico sobre a literatura infantil.

[continua...]

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