dobrasdaleitura | Ontem, Maneco Caneco fez passear os livros de Luís Camargo aqui em casa. O personagem, completando já 45 anos, muito me faz pensar em sua permanência afetiva na memória dos leitores, ao mesmo tempo que permite ser reverenciado, citado e refeito inúmeras vezes por quem que deseje desenhá-lo ou montar novas versões com utensílios da cozinha. Como é importante um personagem ter um nome próprio!
As aventuras de Maneco Caneco Chapéu de Funil se dão nos livros Panela de arroz (1980) e Bule de café (1982). Pertencentes originalmente à serie Lagarta Pintada da Editora Ática, os três livros nos trazem ainda a alegria das histórias em lengalenga, com uma estrutura repetitiva e acumulativa que permite o encaixe de outros brinquedos falados: rimas populares, adivinhas tradicionais e outras inventadas pelo autor-ilustrador. Em 2007, a trilogia foi assumida como uma coleção e acrescida da história Folia de feijão (com ilustrações de Roberto Weigard).
Pintados a lápis de cor, os desenhos revelam a textura do papel vergê. Ora, vemos linhas pontilhadas formando figuras ou palavras; as onomatopeias andam soltas pelas páginas e há a intrusão de linguagens visuais em diferentes graus ou pedagogias do olhar. Teatro, livro encenado; balões de falas de histórias em quadrinhos; a aproximação com o cinema, através de planos sucessivos que se mostram nas aberturas de página no começo do livro Panela de Arroz.
Depois de empilhar objetos de metal e madeira, justapor cabeça, ombros, membros dos pés e das mãos, fui buscar como vestir Maneco Caneco e trazer para a brincadeira das minhas colagens o Leitão Leitor para fazê-los correr o mundo, assim mesmo de ponta cabeça a fim de mostrar que o mundo continua redondo e as Américas começam por onde melhor nos aprouver.
#luiscamargo
@luiscamargo4793
#manecocanecochapéudefunil
6 de fevereiro de 2025
2 de fevereiro de 2025
e aqui está
o tradicional calendário da Entrelinha Design, esse carinho da Raquel Matsushita na chegada do ano. Em 2025, com os microcontos (ou haicais) de João Anzanello Carrascoza
VERÃO
Os olhos ondulavam
nas ramagens
rasteiras de sol.
O MAR
Onde ele se banha?
No horizonte.
#dobrasdapoesia
VERÃO
Os olhos ondulavam
nas ramagens
rasteiras de sol.
O MAR
Onde ele se banha?
No horizonte.
#dobrasdapoesia
29 de janeiro de 2025
dos poemas-envelope, dois
dobrasdaleitura | A poesia ainda pode nos surpreender. O poema escrito à mão pode nos surpreender. O papel amarelado ou o pequeno amassado ainda nos dá notícias de um delicado manuseio das coisas. O manuseio da língua, dobrada em versos e envelopes.
Olho esse pequeno livro e prometo a mim que o lerei cuidadosamente, aos poucos, enfim, a Emily Dickinson dos poemas-envelope. Há anos me prometo isso e já sabia que era o extrato de outro livro chamado The Gorgeous Nothings. Traduzo e não traduzo em minha mente: esse maravilhoso nada, a beleza das coisas sem importância. Se seguisse tendências, proporia dizer as grandezas desimportantes. Tudo é possível na mente aberta à leitura com as duras dobras do tempo, o sino de um pássaro que só existe em minha imaginação ou o contínuo de uma serra tico-tico cortando materiais no apartamento que alguém reforma na vizinhança.
O livro Emily Dickinson: Envelope Poems apresenta um ensaio e as transcrições dos manuscritos, org. Marta Werner e Jen Bervin, co-edição com Christine Burgin Gallery, em outubro de 2016. Enquanto navego páginas de papel e internet, ouço a araponga de uma ambulância passando na rua de casa.
#emilydickison
#dobrasdapoesia
Olho esse pequeno livro e prometo a mim que o lerei cuidadosamente, aos poucos, enfim, a Emily Dickinson dos poemas-envelope. Há anos me prometo isso e já sabia que era o extrato de outro livro chamado The Gorgeous Nothings. Traduzo e não traduzo em minha mente: esse maravilhoso nada, a beleza das coisas sem importância. Se seguisse tendências, proporia dizer as grandezas desimportantes. Tudo é possível na mente aberta à leitura com as duras dobras do tempo, o sino de um pássaro que só existe em minha imaginação ou o contínuo de uma serra tico-tico cortando materiais no apartamento que alguém reforma na vizinhança.
252Atravessando rasuras, vejo como a própria escrita é uma tradução, trocando uma palavra por outra, como neste ou naquele fragmento, e ouço as redundâncias de certos vocábulos sem nunca resultarem em um desavisado pleonasmo...
Neste pequeno viver
que dura meramente uma hora
Quanto – quão pouco
está em nosso poder.
821Emily Dickinson publicou bem poucos poemas em vida, talvez uma dúzia em revistas e jornais de sua época. Seus versos estariam circunscritos àquilo que chamamos poesia de ocasião e às cartas trocadas entre amigos e familiares, não fosse a prática de costurar folhas de papel em fascículos com seus poemas copiados à mão.
O entardecer e o oeste e
a beleza sem importância
que compõem o ocaso
mantém obstruído
apenas com Música, assim
a Roda dos Pássaros,
meu compromisso com o alto.
O livro Emily Dickinson: Envelope Poems apresenta um ensaio e as transcrições dos manuscritos, org. Marta Werner e Jen Bervin, co-edição com Christine Burgin Gallery, em outubro de 2016. Enquanto navego páginas de papel e internet, ouço a araponga de uma ambulância passando na rua de casa.
#emilydickison
#dobrasdapoesia
28 de janeiro de 2025
traduza-me um poema
dobrasdaleitura | Luta de braço com Angela-Lago? Sim, às vezes. Ela adorava reunir pessoas em uma tertúlia literária, à volta do fogo online. Não era apenas entusiasta com as ferramentas do computador, mas perdia-se exaustivamente em bibliotecas digitais e deixou suas pegadas em blogs onde iniciava uma pesquisa e paixões pelo acesso a informações e imagens. Do Projeto Gutemberg à antigos livros com motivos árabes e orientais. Lia a vida no livro de areia. E imagino que assim desenvolveu o hábito da tradução, o que nos aproximou de poemas de Emily Dickinson e Rainer Maria Rilke. Seu modo de fazer chegar os versos na língua portuguesa prezava pela economia de verbos: era o substantivo e a substância das coisas que Angela desejava tocar e trazer o intangível para a palma de nossas mãos.
Um dia, ela chegou do século XV na companhia de Henrique VI e provocação para quem quisesse ver e provar a brevidade das questões temporais nos versos do rei da Inglaterra – Kingdoms are but cares...
Mas ali pego os versos de Emily, em UM LIVRO DE HORAS (2008). Sem excessivos cuidados, em uma oficina de poesia, pedi que traduzissem esse breve instante com os recursos que tivessem ou não tivessem sobre a língua inglesa (também não contei que faríamos uma ‘tour de force’ em direção à Angela Lago). Era válido usar tradutores automáticos, avô das inteligências artificiais, ou mesmo e apenas a imaginação (nesse exercício, queria checar o quanto estamos afeitos à rima e outras sonoridades, sensorialmente, sem preocupações com o sentido). Traduzir é interpretação, e damos aos mortos aquilo que desejamos viver.
Enfim! Não sou trevo, mas me atrevo.
Isso é tudo que temos para oferecer.
#angelalago
#umlivrodehoras
#emilydickinson
#dobrasdapoesia
Um dia, ela chegou do século XV na companhia de Henrique VI e provocação para quem quisesse ver e provar a brevidade das questões temporais nos versos do rei da Inglaterra – Kingdoms are but cares...
Mas ali pego os versos de Emily, em UM LIVRO DE HORAS (2008). Sem excessivos cuidados, em uma oficina de poesia, pedi que traduzissem esse breve instante com os recursos que tivessem ou não tivessem sobre a língua inglesa (também não contei que faríamos uma ‘tour de force’ em direção à Angela Lago). Era válido usar tradutores automáticos, avô das inteligências artificiais, ou mesmo e apenas a imaginação (nesse exercício, queria checar o quanto estamos afeitos à rima e outras sonoridades, sensorialmente, sem preocupações com o sentido). Traduzir é interpretação, e damos aos mortos aquilo que desejamos viver.
It's all I have to bring today —
This, and my heart beside —
This, and my heart, and all the fields —
And all the meadows wide —
But sure you count — should I forget
Some one the sum could tell —
This, and my heart, and all the Bees
Which in the Clover dwell.
Enfim! Não sou trevo, mas me atrevo.
Isso é tudo que temos para oferecer.
#angelalago
#umlivrodehoras
#emilydickinson
#dobrasdapoesia
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