Assim escreve Gabriel García Márquez: o tênue resplendor de abril iluminou o ambiente meticuloso da sala que mais parecia a vitrine de um antiquário. Um jovem vendedor de sepulturas acaba de entrar na casa de María dos Prazeres que ela mesma o chamou... ela, essa mulata brasileira e esbelta que fez a vida numa secreta Barcelona e, já anciana, gargalhada de granizo, tivera um sonho e dá início a preparar suas despedidas. Meticulosamente como a casa, María organiza a última moradia. Com um passo certo, como cada coisa pertencendo a seu lugar natural...
MARÍA DOS PRAZERES faz parte da coletânea DOZE CONTOS PEREGRINOS (1992) e transformou-se num livro ilustrado por Carme Solé Vendrell (1999), traduzido por Eric Nepomuceno (Record, 2001).
Na memória da personagem, há um horror muito antigo do cemitério de Manaus sob os aguaceiros de outubro, agora quer ser enterrada deitada, em lugar alto e seco... No cemitério do Monte Montijuich, onde, à entrada, estavam os túmulos de três anarquistas, cujas lápides sem nome amanheciam, não tão misteriosamente assim, com nomes escritos a giz, tinta ou batom. Contudo, logo os vigias apagavam os nomes... A trama de María dos Prazeres é um pequeno novelo de amores e um vago temor, ao longo de três anos, sob o regime fascista espanhol, até que um surpreendente acontecimento sobrevém à sua casa tão mergulhada em escuridões.
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