Ela, nele se inspirando, estabelece uma relação palavra e imagem que se chama écfrase e é, ao mesmo tempo, um diálogo com o tempo de frutas e colheita de algodão, festança e desejos de reforma agrária, nascimentos, agradecimento, mortes e derrubada da mata, subtexto da identidade e precariedade do povo brasileiro.
NASCIMENTO DO BEZERROTiro chapéu, pela terceira, para o projeto gráfico (só pode ser Walter Ono, você sabe, você viu, era um dos sócios da Quinteto Editorial), pois o branco é moldura para os quadros, é moldura para a leitura das sextilhas e outras estrofes tangidas por variado número de versos. Tiro, por fim, o chapéu para o texto de Carlos Moraes, na contracapa —
Bezerrinho, mal nascido,
Nos braços do seu vaqueiro;
Apenas foste parido
Já tens dono e cativeiro.
És como o pobre, vendido,
Por poder, ou por dinheiro.
O QUE UM PINTA E O OUTRO BORDAEm tempo de PL da Devastação,
Essa não. Quem pode com tanta beleza? Ruth Rocha e José Antonio da Silva num livro só. Agora é que a Quinteto se luziu de vez.A Ruth, cruz credo, bem sabia, é escritora juramentada e da mais alta magicação: escreveu mais de setenta livros para crianças.Essa Ruth rural, de viola, é que pra mim é novidade.Mas quê! No fundo, somos todos rurais. No raso, dizem as estatísticas, o Brasil hoje tem mais gente na cidade do que no campo. Corpo de gente. A alma vai mais devagar. Pega a tua alma, irmão urbano, pega a tua alma e sacode na janela num dia de sol — que que cai? Cai pitanga, broinha de milho, música de carreta, sapinho de lagoa, pedra de bodoque, titica de cabrito, jabuticaba.Cai tudo o que o Silva pinta e a Ruth com versinhos borda.Esse Silva. Nunca teve escola. Pinta com pura luz de boitatá, força de lobisomem, alegria de saci, tristeza de alma penada, beleza de fada, e todas as magias da terra bruta. E é assim, pingando barro, que chega aos mais importantes museus do mundo.Este livro. Este livro vale pelo que valemos todos nós: por uma certa candura que sobra. O vivente humano, que faz? Campereia, campereia por este mundo velho, junta aqui, amontoa ali, e o que sobra de precioso, quando sobra, é certa candura de ver o mundo. A doce e suprema inteligência da ingenuidade. Daquela ingenuidade que vai mais longe e fundo do que toda a esperteza deste mundo.Olha aonde nos levou o Brasil dos espertinhos. A uma dívida que vamos morrer pagando e a um tesouro em dólares, quase do tamanho da dívida, velhacamente enrustidos no Exterior. Mas deixa eles, os espertinhos. Eles estão muito bem retratados na lira caipira de Ruth Rocha. Deixa eles aí, dolarizando a miséria alheia e se safenando todos. Nós temos outros tesouros, outras boiadas.Nós temos este livro, esta bruxaria de cores, estes versos, esta ingenuidade fecunda.Viva Ruth Rocha. Viva José Antonio da Silva. Viva a candura do povo!Carlos Moraes
deixo aqui o texto completo
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