Lalau e Laurabeatriz completam 30 anos de literatura e livros para crianças, desde o lançamento de BEM-TE-VI E OUTRAS POESIAS (Companhia das Letrinhas, 1994). O livro tem um tamanho afetivo, para caber na palma da mão, e tem uma sugestiva epígrafe trazendo Adoniran Barbosa: “Olha o sol, parece um remendo branco na calça azul do céu.” A frase foi retirada da crônica Um senhor piquenique! (1969) sobre uma farofada na Praia Grande. Seguir esta pista nos ajuda a aproximar o humor gaiato de ambos os poetas, aquele jeito matuto e caipira de tirar um verso alegre ou insólito das coisas mais comuns, ver e também libertar a alma de passarinho dentro do próprio leitor. De algum modo, acompanhando o primeiro poema, a ilustração de Laurabeatriz é uma imagem referencial do bem-te-vi que começa a cantar de madrugada, mas também é uma metáfora sorridente, alma desperta. O ritmo do carinho vai pontuando noutras páginas nalguns diminutivos, nas ideias do que é uma vida boa, com parentes e conversas, aprendendo como se faz palhaçadas, perguntar se Deus, no sítio do céu, tem televisão, e vai por aí afora. O que é singelo também reside na contradição: um peixinho que chora no fundo do aquário e já não sabe se nada em água ou lágrimas; uma banana danada que anda pelada para não virar marmelada; e o mar lindo e gozado (esse é meu poema preferido), onde a gente entra doce... e sai salgado!
É preciso ler e reler Lalau. E nesses dias enquanto vou caçando haicais, Lalau também, ao modo de Guilherme de Almeida, tenha talvez permissão para colocar um título nesses versos tão breves e contemplativos:
VAGALUMES
Parecem diamantes,INFÂNCIA
Em fins de tarde,
Juntos e brilhantes.
Um gosto de amoraTal como um piquenique, o livro de Lalau e Laurabeatriz começa antes do sol nascer e vai terminando com pontinhos de luz, uma lista de coisas feitas pelo poeta durante a infância, e bicos amarelos de papa-capim, esse outro passarinho que é a patativa, mas os paulistas e paulistanos chamam igualmente de cabeça-de-coco. Foi ótis, doutor, ótis!
comida com sol. A vida
chamava-se: “Agora.”
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@lalausimoes
@laurabeatrizarte
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