29 de janeiro de 2025

dos poemas-envelope, dois

dobrasdaleitura | A poesia ainda pode nos surpreender. O poema escrito à mão pode nos surpreender. O papel amarelado ou o pequeno amassado ainda nos dá notícias de um delicado manuseio das coisas. O manuseio da língua, dobrada em versos e envelopes.

Olho esse pequeno livro e prometo a mim que o lerei cuidadosamente, aos poucos, enfim, a Emily Dickinson dos poemas-envelope. Há anos me prometo isso e já sabia que era o extrato de outro livro chamado The Gorgeous Nothings. Traduzo e não traduzo em minha mente: esse maravilhoso nada, a beleza das coisas sem importância. Se seguisse tendências, proporia dizer as grandezas desimportantes. Tudo é possível na mente aberta à leitura com as duras dobras do tempo, o sino de um pássaro que só existe em minha imaginação ou o contínuo de uma serra tico-tico cortando materiais no apartamento que alguém reforma na vizinhança.

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Neste pequeno viver
que dura meramente uma hora
Quanto – quão pouco
está em nosso poder.
Atravessando rasuras, vejo como a própria escrita é uma tradução, trocando uma palavra por outra, como neste ou naquele fragmento, e ouço as redundâncias de certos vocábulos sem nunca resultarem em um desavisado pleonasmo...

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O entardecer e o oeste e
a beleza sem importância
que compõem o ocaso
mantém obstruído
apenas com Música, assim
a Roda dos Pássaros,
meu compromisso com o alto.
Emily Dickinson publicou bem poucos poemas em vida, talvez uma dúzia em revistas e jornais de sua época. Seus versos estariam circunscritos àquilo que chamamos poesia de ocasião e às cartas trocadas entre amigos e familiares, não fosse a prática de costurar folhas de papel em fascículos com seus poemas copiados à mão.

O livro Emily Dickinson: Envelope Poems apresenta um ensaio e as transcrições dos manuscritos, org. Marta Werner e Jen Bervin, co-edição com Christine Burgin Gallery, em outubro de 2016. Enquanto navego páginas de papel e internet, ouço a araponga de uma ambulância passando na rua de casa.

#emilydickison
#dobrasdapoesia

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