22 de fevereiro de 2021

outra vez, outra vez

Um dos aspectos estruturais da narrativa bem pouco explorado, nos estudos e comentários sobre literatura e livros para crianças, ainda é o espaço onde a história acontece, não só como um pano de fundo, um plano ao fundo ou lugar fortuito, mas um actante fantástico. Recorro às ruas de pedras e esquinas irregulares que Angela Lago assentou no livro OUTRA VEZ (1983) a fim de criar uma nova cidade que fosse muitas e ao mesmo tempo nenhuma, uma cidade mineira exclusivamente sua, porque existe no âmbito de sua ficcionalidade.

Nesse lugar imaginário, acercam-se as igrejas de Nossa Senhora do Rosário (Ouro Preto), de São Francisco (São João del Rei), de Nossa Senhora do Ó (Sabará), como suas reminiscências barrocas, na mesma porção de sonho em que se vê o passadiço da Rua da Glória de Diamantina, a Casa da Ópera e a Casa dos Contos, entre telhados, platibandas, bananeiras, coqueiros, jabuticabeiras, céu estrelado... Todo cenário move-se com as personagens, de modo a evidenciar a função do espaço na trama e na leitura, numa visão em plongée: olhar que mergulha nos detalhes e breves narrativas paralelas que acompanham, musicalmente, a linha da história principal. Ficcionalidade e função do espaço, tão importantes!
#angelalago

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