30 de março de 2021

em asas de algodão

Às vezes, palavras como fantasia, imaginação ou devaneio não parecem dar conta da descrição de uma literatura para crianças que escape das fórmulas românticas. Nem mesmo as chaves de leitura de uma psicologia fácil me auxiliam aqui... O livro de Marilda Castanha: EM ASAS DE ALGODÃO (Edições SM, 2015) nos convida a deixar para trás os comentários adornados e manhosos ao gosto do século XIX.

Ainda que venha pesar a tríplice leveza dos símbolos oníricos, da simbologia dos alquimistas e do simbolismo no seio da literatura, talvez seja possível falar aí a respeito de um realismo metafísico ou existencial. A personagem da narrativa vestida com seu vermelho próprio e vibrante está presa na dor e na cor cinza de sua casa interior. De um quadro, se desprende uma nuvem que será sempre passageira, com sua forma instável e força invisível de água-e-vento a transportar a menina para um novo lugar... Ora, é um conto visual de tristeza e uma janela para alguma presença física de afeto, movimento e esperança. Por entre as imagens, uma voz narrativa percorre em tom de reflexão ou confissão que organiza, em um conhecimento particular, um processo de despedida dos sentimentos amargos a uma liberdade consoladora. Sim, penso então num realismo espiritual.
Um P.S. de Marilda Castanha!

Peter querido, que honra e alegria ter uma leitura, deste livro, tão maravilhosa como esta sua. E você (considerando tanto o texto quanto a imagem) foi exatamente no ponto nevrálgico desta narrativa. Já na fase final do livro não havia nenhum pedacinho de azul. Ou seja, a personagem estava totalmente imersa numa tristeza muito maior. Conto um segredo: tive que voltar nas artes e colocar azul em todas, e assim pensava que esta tristeza seria amenizada e não estaria tão aparente (ou que ia "despistar" a dor de viver da personagem. Mas você, hein? sempre super atento! E este "realismo espiritual"...puxa vida! Obrigada pelo olhar tão generoso! Abraço grande! (Facebook, 30 de mar. 2021)

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