peter ô.ô sagae, descansando os olhos e... a imaginação
Aprendi ouvindo o escritor Bartolomeu Campos de Queirós que a vida não se divide em realidade e fantasia, pois a fantasia faz parte da realidade no signo uno da vida. E esse pensamento despertou junto a mim com a leitura do livro de imagem O balão, de Daniel Cabral (Positivo, 2013), uma narrativa simples de ações sucessivas, muito simples, sem segredos, sem mistérios, apenas uma coleção de sonhos e sentimentos guardados a céu aberto.
À primeira página, um vento arrasta, levanta e empurra algumas folhas do chão, e vai enrolando e passando pelos pés das pessoas. A manhã azul, azul com nuvens, e vem lá o vendedor de balões coloridos com balões amarrados ao porta-bagagem de sua velha bicicleta. “Mamãe comprou o mais bonito para mim e voltamos para casa.” Tudo parece mais belo numa cidade de presépio, casas simples, telhados de duas águas, telhas de barro, antenas de braços abertos, gato dormindo à janela, pássaros plantados entre as flores mais simples.
Todos os brinquedos no quarto do menino despertam à entrada do balão mais belo do mundo, o balão que traz um pedaço de ar e céu dentro de si. Um balão que faz correr o menino entre as roupas brancas do varal, e faz voar seus cabelos e adivinhar outras vidas. Os lençóis estendidos: transformam-se em velas de caravelas para navegar, o sol é um desenho de círculo e riscos amarelos, e o balão é o mais belo balão para levar o menino a terras importantes. Que os bons ventos soprem! Pássaros e piratas, corrida de centopeia, girafa numérica: é preciso, afinal, calcular a altura que o menino tem e o ponto máximo a alcançar. Nas suas aventuras, incêndios, leões, carro de bombeiros, montanhas com cachecóis de nuvens, um cavalinho-de-pau vira alazão, o ursinho que vira gigante, um dinossauro que ruge, urra e até escoiceia, mas tem braços curtos demais para nos pegar. Quanto tempo se passou? Cinco semanas, cinco horas, cinco minutos em um balão. Era uma vez e não era domingo, manhã de férias, manhã de infância – mas, no meio do caminho...
Tinha uma pedra, um tropicão, tinha o fim do caminho
e o balão mais belo do mundo solta a mão do menino
e vai embora
de carona com o vento, porque é feito de céu e ar, e já aprendeu tantas histórias, e talvez tenha mesmo chegado o momento de encontrar o próprio futuro, é isso que os homens chamam destino, e quem vai saber, quem vai contar o segredo do balão que entrou pelo brilho distante nos olhos do menino. Um sorriso, simples assim é a descoberta da resignação. O vento da manhã também foi embora e o astronauta sem astronave que é todo o coração do menino põe os pés no chão. E ele caminha, rápido, ligeiro, corre, voa nos pequeninos passos largos da novidade que tem para contar à mãe, tão boa a mão da mãe segurando o menino sob o céu de ouro que se estende, cinema, noite, céu já púrpura e marinho e o balão vermelho, mais acima, no móbile das estrelas...
Simples assim a leitura, uma dobra de amizade e sonhos.
Feliz Ano Novo!
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