20 de novembro de 2012

o abraço dos orixás

Temporada de contos e recontos, 10


Pierre Fatumbi Verger abre o volume de Lendas africanas dos orixás (Corrupio, 1997) com as belas palavras de um babalaô: “Antigamente, os orixás eram homens.” – que, por seus poderes, sua sabedoria, força e virtudes, tornaram-se dignos de jamais serem esquecidos. Consequentemente, é a homenagem à memória de um ancestral que movimenta o culto aos orixás, de geração em geração, até os dias de hoje... Com base nas narrativas da tradição ioruba compiladas pelo Fatumbi, destacamos três recontos.


Oxalufã, com aquarelas de Edsoleda Santos e texto de Renato da Silveira (Solisluna, 2010), narra a longa viagem que o muito-velho orixá empreende rumo ao norte, para as terras de Xangô. Um adivinho da corte havia advertido Oxalufã de que não seguisse caminho; porém, o obstinado ancião decide ir, ainda que a passos lentos, apoiado sobre o cajado enfeitado por um pássaro de metal branco. Atravessando desertos, savanas e florestas, Oxalufã se depara com três exus zombeteiros que muito aprontam para por à prova a virtude de sua paciência... Consciente do poder da própria paz, o velho orixá chegará ao reino vizinho, exatamente onde começarão os sete piores anos de sua existência!


Oxum foi escrito e ilustrado unicamente por Edsoleda Santos (Solisluna, 2011), iniciando com a saga de um povo contra a falta de água e de alimentos, contra os animais ferozes e as paisagens áridas. É uma história de esperança e da conquista da uberdade da vida, representadas primeiramente pela busca de um lugar para estabelecer uma nova cidade e pela espera confiante do rei Larô pelo retorno da filha desaparecida. Pois a menina fora convidada a visitar o reino de Oxum, submerso nas águas doces do rio, onde conheceu a intimidade e as três lições mais importantes da natureza: o poder, o tempo e o ritmo da gestação; o aroma dos condimentos e o sabor das iguarias que nutrem e conservam a vida; o remédio para aliviar e curar o corpo com ervas e plantas. O mito de Oxum ensina-nos que ninguém é inimigo da água.


Ibejis, de Edsoleda Santos (Solisluna, 2011), igualmente transporta o leitor para o tempo mágico dos reinos nigerianos, onde viviam os encantados orixás. Como muitas histórias a respeito do nascimento festivo de gêmeos, por toda costa e o interior do continente africano, e também pelo mundo afora, a lenda dos filhos de Xangô e Iansã faz reverberar a consciência ancestral de todos os povos, na tentativa de responder às perguntas de onde viemos, quem nos criou, quem são nossos pais. Aqui está mais um relato de um casal divinamente ligado aos fenômenos do céu, Xangô, deus do trovão, e Iansã, deusa de raios e tempestades, cuja força, som e brilho anunciam a descida da água à terra, fertilizando-a. Em meio ao mito da mãe que lutará bravamente contra a separação momentânea da morte de um de seus queridos filhos, encontramos a história de nossa divindade resguardada pelos símbolos totêmicos da fé.

Um comentário:

  1. As lendas me encantam pela sutileza das mensagens contidas nas suas entrelinhas poeticas - Eterno motivo de inspiração dos poetas, músicos, artistas...
    Receber o abraço dos orixás no dia da consciência negra me deixou muito feliz. Sinto-me gratificada pela apreciação critica e também considero de grande valia a divulgação dos livros Oxalufã, Ibejis, e Oxum no o'Blog - um difusor da boa leitura.
    Parabêns ao blog pela qualidade dos titulos apresentados.
    Atenciosamente Edsoleda.

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