17 de dezembro de 2025

um catálogo de gestos

dobrasdaleitura | SIMPLESMENTE
Querida amiga, um dia nossas mãos se entrelaçaram e ouvi o silêncio que vinha de seu coração vaidoso, assustado, forte e intempestivo. Você me leu o destino nessas linhas que carregamos na própria palma... Não, não era você, era uma cigana de nome sonoro. Rimos. Porque talvez fosse o reencontro de outras vidas ou mesmo um desses jogos que inventamos para afastar o medo que habita o mundo e, de repente, vem e nos pega no colo.

Se existia muito antes essa espécie de amor, a devoção que se traduzia nos assuntos em torno dos livros para crianças, houve, naquele instante, a certeza de que seu sorriso era uma linguagem de longa data apreendida para nos curar. No lugar de Angela Lago, era possível vislumbrar outras psiques à beira da vertigem encantada pelo nascer, morrer, viver além das fronteiras comuns. Você, querida amiga, como quem escolhe dizer-se nau frágil, agora contudo evolui rumo ao sem limites.

Aguardarei notícias, claro – sei que os recados chegarão de imprevisto, assim que puder vir e contar alguma coisa do Eterno. Mas penso também: qual outro segredo você guardaria que não estivesse já nas histórias que recontou e desenhou, nos seus poemas e reflexões? Jamais deixarei de ouvir Bach sem ter o acompanhamento de suas imagens. E suas mãos agora celestiais, suas mãos me dirigem hoje a esta fotografia com sua figura tênue e tenaz, passageira entre os cânticos amáveis.

Também tenho palavras suas para compartilhar com outros amigos, minha amiga. Que possamos responder com alegria a esta viagem que é uma folha, uma abertura entre duas páginas. Simplesmente.

“Tenho a impressão que o conto O Livro de Areia, de Borges, adivinhou a Internet. Adivinhou também meu trabalho, que começa aos sete anos, assim que aprendo a escrever, e vai se transformando vida afora, sem nunca se concluir. Há uma beleza e um fascínio no livro de Borges que sei que não irei alcançar... Basta que ao final a folha se perca na floresta. Que é o melhor lugar para perder uma folha. E meu livro se perca na biblioteca que não termina.”

#umcatalogodegestos
80 anos de nascimento de Angela Lago
45 anos de histórias e livros ilustrados
poemas de ADMIRAR NÃO É SEGREDO

#angelalago
#B17DAC


16 de dezembro de 2025

ando aos cacos

dobrasdaleitura | ando aos cacos, com os versos, aforismos e manchetes do cotidiano que vão compondo a poesia de Érica Paiva Rosa, neste projeto reunindo cinco códices iniciados igualmente, convidando o leitor a encontrar todas as peças, juntar os temas — como eu fiz, empilhando um quarteto lírico e metalinguístico —

[52]
cada mulher é um mar
para conhecer suas ondas
é preciso perguntar à lua
por onde se pode navegar
[91]
em casa de velho marujo
a solidão faz muito barulho
[65]
minha saia solta
fazendo ciranda
com sua camisa aberta,
nós dois vestidos de praia
em meio à cidade de pedra
[38]
a poesia passou e ninguém viu
todo mundo ficou preocupado
procurando o poema
esses cacos — sociedade, mulher, descoberta, palavrear, afeto — têm o projeto gráfico de Daniel Minchoni e essa primeira edição foi impressa “em casa” para o lançamento na @livrariagrafica no último sábado, enfim — essa poética das coisas breves se estende pelo pequeníssimo zine do @centrodememoriaoperaria de Sorocaba (CMOS), um imagiário com fachadas de antigas casas —

@ericapaivarosa
@slampevermelho
#dobrasdapoesia

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5 de dezembro de 2025

guarnicê os zóio e zuvidos

dobrasdaleitura | Gosto do boi, guarnicê os zóio e zuvidos, fazer pequenas coleção. De junho a fevereiro do próximo ano, tem dezembro pelo meio e o boi é dança de situação, como diz Joaquim Cardozo, a exprimir o regozijo da noite de Natal. E tem as figura todas, variando os nome, escapando o S do plural que é caminho de cobra. Escapole, stá bem. Escrevê de todos os jeito, contribuição milionária de todos os erros que, antes da gramática, da ortografia da cartilha, vem mexmo a sintasse do pensamento. Também justifico: sou do tempo que bumba-meu-boi tinha hífen, sinônimo de panelas enormes para cozinhar (para) muitas gentes.
Do boi já fiz poema. Salve, Maranhão! Já fiz programa de rádio. Salve, oh Pindaré! Praia da Areinha. Até ganhei prêmio da Trimalca no tralalá da tribuna da música para américa latina e caribe. É na hora de tirar o pó da estante que o boi salta. Azulejo de parede foi Rosinha quem me deu. Foi ou não foi @rosinhailustra? Medo que caia da parede, encontrei caixinha do tamanho exato.
Os livro. Boi síntese, teatro brasileiro ilustrado por Poty (1963) e o Mundaréu com uma singela opereta. Os livro de literatura infantil foram ilustrado por Graça Lima (1996), Fernando Vilela (2007), Mariana Zanetti (2010), Jô Oliveira (2015) e Cris Eich (2023), depois dos texto escrito por Rogério Andrade Barbosa, Stela Barbieri, Alessandra Roscoe, Marco Haurélio e Bella Aurora que também se chama Tereza (e eu fui no lançamento num sábado, uma semana antes). Tem bernunça em canções da Ilha (2001) e livro-biombo de Sig Schaitel e Letícia Bicalho (2019). Tudo fora de ordem, mas enfileirado. Fazer das tripas, o coração. Malhado, dobrado, amarelo. Risografia de Jhonatan Raff. Veio da printa-feira.

Roda carro-céu, cavalo-marinho.
Aboio, papel.
Queria fazer postagem simples, uma foto só.
A coisa foi pegando. Reler trechos de livro.
O que fica de bom na instante, o que dispenso.

Viva Sanju! Viva Juó Bananère!
Viva Adoniran! Viva Décio Pignatari!


3 de dezembro de 2025

mais animais

dobrasdaleitura | camalo ou cavelo? vacavalo, rinoceronde e alguns animais proparoxítonos, grandes ou pequenos, como a maripousa e a livrélula, foram criados pelo jogo com palavras-valise e não faltará, no último lance deste imagiário, a presença da tartarruga carrolliana que (ai, ai, ai, animais) as ferramentas de pesquisa não alcançam conhecer!

“devem ser bichos muito esquisitos”, suspirou alice
o livro, de @arnaldo_antunes e @zaba_moreau com ilustrações do grupo @xiloceasa, foi publicado em 2011 pela @editora34, e recentemente encontrei no @sebinho.mirandopolis o exemplar 21 de uma tiragem de 125 exemplares impressos na tipografia acaia, em 2009, sob a supervisão técnica de j. c. gianotti

— livro que se abre inteiro!
ainda que ambas edições sejam feitas em papel pólen 90, as tintas são bem outras nas imagens, sobrepondo-se, a partir das matrizes em gráfica, e o que também me diverte é o espaço não-impresso entre palavra-e-imagem, a posição da gravura, os alinhamentos que influenciam no desenho da página, com um pouco mais de tensão para a leitura, no que diz respeito ao respiro e ao galope de olhar e folhear: afinal, onde queremos parar ou brincar adiante?
#xilogravura
#intertextualidade
#dobrasdapoesia