6 de junho de 2009

Uma cambalhota na saudade





Fanny Abramovich
SYLVIA SEMPRE SURPREENDENTE
il. Gê Orthof (Paulinas, 2007)


Diante de um livro-homenagem desses, a gente só pode sair pensante, cambalhoante e confiante na amizade transbordadora — assim tão "sem possibilidade de recuar no afeto" — que viveram Sylvia Orthof e Fanny Abramovich. Uma apegadíssima à outra pelo que é da sinceridade, pelas loucuras sempre multiplicadas, pelo objetivo de fazer felicidade aos outros, principalmente às crianças, que até seria pecaminoso pecadante não aderir ao mesmo jogo da linguagem de invencionices exclamativas que a homenageante faz à homenageada.

Fanny, a cigarra ruiva, fia acontecências e admirâncias em torno dos rodopios da autora leve, grandalhona e bailarina que foi toda Sylvia orthofiando na vida... Dividiu o livro em cinco dedos de conversa com o leitor: um prólogo, três atos e um encarte no posfácio, onde estão alguns prefácios preparados para diversos livros publicados da amiga e outras escrevinhações, certos dados biográficos que são do "tipo de informação que, de repente, é só o que a pesquisa escolar quer..." e mais uma lista de memória e coração com os 18 melhores livros de Sylvia Orthof, em sua opinião.

O prólogo encena uma noite chuventa, pelas quatro horas da manhã: Fanny, debruçada em uma carta para a sempre querida escritora, fala a ela da outra carta que escreveu e deletou. Reverencia a amiga como a melhor autora brasileira de textos para crianças. "Claro, claríssimo, depois do Monteiro Lobato", corrige-se Fanny e recorrige mais uma vez: "Única capaz de ser parceria dele." E fala da saudade e também do percurso do livro SYLVIA SEMPRE SURPREENDENTE — que, afinal, já estamos lendo...

Fã sem reservas, Fanny deslumbra e faisca um retrato falado falante, em um ritmo galopado, próprio de quem podia acompanhar La Orthof de perto. Homenageada e homenageante imprevisíveis! No Ato 1 - Se a memória não me falha, Sylvia é pega em seu tumulto criativo, em meio aos textos que escreveu e a relação com os editores, os calotes que levou, os destrambelhamentos nas palestras, alegrias e tristezas, enfim, a feitura da autora com o mundo girando a partir de seu trabalho. No Ato 2 - A velhota cambalhota, Fanny nos dá seus encontros com a amiga e irmã, com suas manias maravilhosas e mais íntimas gostosuras abrançantes. No Ato 3 - Saracotico no céu, Fanny funde visões da chegada de Sylvia nas nuvens e sua bagagem de leituras. Delírio farto e, sem dúvida, um repertório risonhal.

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