16 de abril de 2010

Enigmas para Alice

por Peter O’Sagae


Raymond Smullyan
trad. Vera Ribeiro
il. Greer Fitting
Alice no país dos enigmas
Jorge Zahar Editor, 2000

ISBN 9788571105508
192p.


Para quem sente saudades do país das maravilhas, Raymond Smullyan faz um convite e tanto, com boas doses de desafio e divertimento. Publicado na comemoração dos 150 anos de nascimento de Lewis Carroll, em 1982, o livro Alice no país dos enigmas foi convincentemente escrito ao gosto carrolliano: os personagens agem e falam como nas obras originais, envolvendo Alice e o leitor em problemas de natureza puramente lógica, através de doze capítulos com muitos trocadilhos e despistes metalingüísticos, por vezes, mágicos e metafísicos...

Imagine um dia fresco de verão: o Rei pede à Rainha de Copas para preparar algumas tortas saborosas. Mas, como fazer as tortas, se a geléia (que é a melhor parte!) foi roubada? Quem roubou? Os suspeitos são a Lebre de Março, o Chapeleiro Louco e o Leirão. Todos três imediatamente vão a julgamento: quem roubou a geléia, ora essa, fora a Lebre de Março, o Chapeleiro Louco ou o Leirão. Como descobrir o culpado? (Essa e as outras soluções dos 88 enigmas estão no final do livro.) Por fim, encontram a geléia — mas descobre-se que também roubaram a farinha, o açúcar, o sal, a assadeira, o livro de receitas, a manteiga, os ovos... E a pimenta!!! Outros personagens são levados à corte, cada suspeito faz sua declaração e assim começam as confusões no país das maravilhas.

Depois, Alice passeia com a Duquesa que lhe abraça e finca o queixo pontudo no ombro da menina, segredando: metade das criaturas daqui são loucas! Resta descobrir quem... E vai se passando a mesma coisa com o Grifo, a Falsa Tartaruga e o Rei: é preciso sempre adivinhar, descobrir, decifrar — como promete a quarta de capa — problemas lógicos matemáticos, adivinhações deliciosas, charadas mirabolantes, enigmas diabólicos, desafios tentadores. E mesmo que você não tenha talento ou paciência, o que vale nessa leitura é também avançar páginas e alcançar a segunda parte do livro: A Lógica do Espelho.

Alice é, então, posta à prova pela Rainha Vermelha e a Rainha Branca, em uma verdadeira aula de malabarismos matemágicos. Isso mesmo: matemágicos, pois o que importa não são os números, mas exatamente o abracadabra de cada palavra na enunciação do problema. “Você sempre deve contar tudo, porque tudo conta.” A menina também encontra os gêmeos fofuchos Tweedledee e Tweedledum. Porem, sem o nome bordado em seus colarinhos, como já acontecera no outro livro. Então, quem é quem? É bom lembrar que nem tudo o que é parecido é, fatalmente, similar!

E Humpty Dumpty está de volta, sentado no mesmo lugar do mesmíssimo muro com suas tiradas peculiares. Deliciosamente, paradoxos ele oferece a Alice — ou seja, perguntas que não têm resposta, mas que dão muito que pensar. De repente, a descoberta mais sábia e bela: que não é necessário ter e darmos respostas para tudo, mas enovelar o pensamento para despertá-las em nós ;-) Humpty Dumpty é um dos argumentadores mais argutos que conheço, diz o Rei Vermelho, é capaz de convencer praticamente qualquer um de praticamente qualquer coisa, quando se dispõe a fazê-lo!

Por fim, as aventuras de Alice enredam-se no grande enigma da filosofia moderna e na teoria dos ‘mundos possíveis’, retomando atentamente a passagem do livro de Carroll em que o Rei Vermelho dorme e sonha. Sonha com uma menina chamada Alice e, caso acorde, Alice deixaria de existir, puff!, feito a chama de uma vela. Agora, ficamos sabendo que o Rei Vermelho também encontrou Alice dormindo... e, sonhando com ele, de tal modo que, acordando, era o rei que era uma vez feito vela!

E, você já sonhou que você é um sonho? Como diz Smullyan, “Este livro, tal como as Aventuras de Alice no país das maravilhas e Através do espelho, é realmente para leitores de todas as idades. Não quero dizer com isso que todo ele seja para qualquer idade, mas que, tomando uma idade qualquer, parte dele é para essa idade.”


ENIGMA 62
« — Se um carrilhão leva trinta segundos para bater seis horas, quanto tempo leva para bater doze?
— Ora, sessenta segundos, é claro! — exclamou Alice. Oh, não! — percebeu, de repente. Está errado! Espere um minutinho, eu lhe darei a resposta certa!
— Tarde demais, tarde demais! — exclamou a Rainha Vermelha, triunfante. Uma vez que tenha dito uma coisa, você nunca pode se desdizer!
Qual é a resposta certa? »

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