8 de fevereiro de 2011

bleu pour les garçons

comentários de peter o'sagae

Charles e Benjamin são vizinhos, porém não costumam ir juntos à escola. Aliás, estudando na mesma sala, Charles senta-se exatamente a frente de Benjamin. “Conheço de cor suas orelhas, grandes orelhas de abano, suas largas costas curvadas e seus cabelos tão curtinhos que ele até parece careca.” Não fosse isso, ou uma borracha ou um lápis emprestados, ninguém mais ali notaria sua presença. Qual seria mesmo a cor de seus olhos? Charles é daquelas pessoas que se não existissem, não faria falta. É o que podemos pensar até que um acidente faz o menino ficar preso à cama e sua ausência começa a chamar a atenção... E Benjamin recebe a incômoda tarefa de levar as lições de classe para o colega!

Novas situações irão desvendar uma legítima amizade entre eles, durante três meses, correndo o tempo, uma vez à esquerda, duas vezes à direita, entrando na rua que sobe e depois na que desce: a rua por onde se vê o canal, no verão, cheio de barcos. Como a vida. Se liga, Charles! de Vincent Cuvellier é uma pequena novela com muito bom ritmo no texto e nas ilustrações de Charles Dutertre (Edições SM, 2007).

Quem nunca viveu ou viverá um amor impossível, tanto mais próximo mais amoroso e difícil? “Então é isso, estou apaixonado. E ela está aqui, bem na minha frente, aos meus pés. Por alguns segundos a Terra pára de girar e eu perco a respiração. Aos meus pés, sim, ela está aos meus pés: a vendedora de sapatos da loja do shopping perto de casa... É ela.” E nada seria tão complicado se Gregório não fosse apenas um pirralho de nove anos e Leonor, vinte e dois... Todo mundo namora menos eu, de Alex Cousseau com ilustrações de Nathalie Choux (Edições SM, 2005).

Estas são duas histórias da coleção Barco a Vapor, série Azul, que vieram da França. Com a tradução de Heitor Ferraz Mello, narram, com humor inteligente e delicadeza, dilemas contemporâneos, a solidão, o isolamento, a amizade e as mudanças que se processam no interior de cada menino, seja daquele que vive a separação dos pais, como Benjamin, ou a convivência com pais idosos, como Charles, ou ainda em busca do primeiro grande amor, como Gregório. As ilustrações de Charles Dutertre e de Nathalie Choux, semelhantes a vinhetas, espalham-se profusamente numa diagramação distributiva pelas duplas páginas.

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