7 de fevereiro de 2011

e a chave caiu-lhe das mãos...

por Peter O'Sagae



“Tingindo de azul a barba do protagonista, Perrault intensificou o horror provocado por sua aparência. Barba Azul é representado como um homem contrário à natureza, seja quando sua barba se tinge como a de um luxurioso oriental, ou quando ganha um volume monstruoso sem que ele recorra a artifícios. A cor azul, a cor da profundeza ambígua, ao mesmo tempo do céu e do abismo, codifica o caráter terrível de Barba Azul, de sua casa e de seus atos.” Escreve Marina Warner: Da fera à loira (1999: 276).


Moças graciosas motejam de Barba-Azul, que tem olhos de desejo e tristeza, na perspectiva do ilustrador polonês Janusz Grabianski. Dupla página do livro Contos de Perrault, trad. Maria José U. Alves de Lima (Melhoramentos, 1970).



Oito dias de festa, passeios, caçadas e pescaria, danças e boa comida... Ninguém lá dormia, e as noites todas transcorriam entre brincadeiras. Aos olhos da jovem, a barba do homem já não parecia tão azul — a convivência é uma chave igualmente. Traços ligeiros a nanquim, cores empastadas, fortes, como manchas indeléveis sobre o papel. Arte de Zaü para O Barba-Azul, de Charles Perrault, com tradução de Hildegard Feist (Companhia das Letrinhas, 2009).




Por que há sangue nesta chave? Sob o olhar cortante de Barba Azul, a jovem perde suas cores no emaranhado de não ter uma resposta para dar. Formas exuberantes, tons saturados, rosto pálido, o antagonismo representado pelos personagens ocupando páginas opostas: detalhe da ilustração de Claudia Scatamacchia para O Barba Azul, traduzido do original francês por Tatiana Belinky (Kuarup, 1987).

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