18 de abril de 2013

poesia no formigueiro

p.e.t.e.r...o... s.a.g.a.e


Era um livro que escorregou da mão de uma menina e caiu na grama, livre, despertando a atenção de uma formiguinha. Era a primeira expedição em que a jovem operária tomava parte. Desconhecia o que era a natureza em um dia de verão, o azul tão imenso e os verdes tantos por todos os lados. Ela não conseguia, não podia mesmo continuar caminhando de cabeça baixa naquela interminável fila de formigas, tão irmãs, tão iguaizinhas no corpo, nas seis patas tateando obstáculos, pedras e troncos, nas antenas voltadas apenas para a repetição do dia-a-dia...


Era, então, um livro, um mundo novo para a formiguinha de primeira viagem. Ela logo descobriu a palavra “folha” verde e cheirosa, colocando-a delicadamente nas costas, a fim de voltar para a fila. Mas, qual? Somente formigas ordeiras e atentas saberiam retornar ao mesmo lugar – o que não era o caso daquela jovem... O fato não passaria desapercebido e a notícia correu elétrica às antenas da formiga-líder no começo da fila. Era uma vez, promessa de enorme confusão!


FORMIGAS, primeiro livro de Elaine Pasquali Cavion, com ilustrações de André Neves (Paulus, 2009), é uma pequena obra na aparência, porém grandiosa nas soluções para a narrativa. Ainda que venha contar da vida monótona das formigas, preocupadinhas com a provisão de migalhas e folhas, a escritora conduz todas à descoberta das palavras, umas pesadas, outras leves, que adoçam os sonhos mais que grãos de açúcar, ampliando os horizontes no interior do formigueiro. E, quando certa cigarra chega para oferecer seus serviços, como costumava fazer em todos os invernos, encontra a caridade e a claridade de uma porta aberta: a literatura em meio às coisas comuns do cotidiano!


"formigas também são palavras
com seu alfabeto miúdo"

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