setembro na mesa 2
Não gosto muito dos livros que me fazem tropeçar nos parágrafos da introdução. Ainda que discordar dos autores seja um direito próprio, não gosto de desistir das leituras que me proponho. Não gosto de iniciar comentários com frases negativas ou más impressões... Só que não, tudo isso, um dia, acontece: que nem olhar no espelho e desgostar do desalinho dos cabelos ou do comprimento dos dedos. Para ler o livro ilustrado, de Sophie Van der Linden (Cosac Naify, 2011), tem a tradução de Dorothée de Bruchard e quebras sistemáticas de coesão textual: leio a proposição de uma ideia e não vejo arremate à frente, uma dúvida se insinua e instala-se em minha mente, mas não encontro uma resposta adiante. O que acontece?
Por que parece tão natural a leitura do livro ilustrado? É uma opinião ou uma pergunta retórica da autora, apenas? Até quando vamos esbanjar elogios – pelas imagens notáveis, pelas narrativas cativantes – e acentuar certa inibição nossa com o aspecto paradoxal do livro ilustrado para crianças que desafia competências de qualquer idade? Será que passou debaixo do meu nariz uma ironia sem que a pudesse realmente notar? Afinal, não são simpáticos os franceses porque são precisamente franceses, como ensinou Françoise Sagan? Por que, entre os monstros que habitam os livros, o pior talvez seja o desprezo pelo leitor que ainda me mete medo? Devo virar a página?
As imagens têm alcance universal? Seriam realmente recebidas e interpretáveis para todos? As imagens não se prendem às referências locais e históricas, aos modos de representar as coisas para aqueles que estabelecem uma certa ordem e convenção? Que idealização é essa que transpõe imagens além de fronteiras culturais e transforma o signo visual em totem?
Será que perdi o humor sobre alguma ideia? Estou jogando metáforas aos portos? Sabendo Walter Crane, em 1896, dispensava críticas ao estilo esfumado das xilogravuras de Gustave Doré, não deveria estranhar que venha Van der Linden, em 2006, ignorar os coloridos pincéis em aquarela de Arthur Rackham? Existe esquecimento estratégico a respeito de Edmund Dulac, considerado inglês demais em seus modos para ser lembrando como um artista e ilustrador francês? Por que sinto tanto essas faltas e mais outras, ao ver tão bela e extensa galeria de reproduções de capas e páginas abertas de livros ilustrados para crianças francesas? Quero demais, pois me faltou acesso aos exemplos e às referências que este estudo traz aos professores brasileiros?
Quem aí abre uma nova interrogação?
Nenhum comentário:
Postar um comentário