21 de outubro de 2014

de onde parte a voz dos escritores?

O’ABRE ASPAS entre ontem e hoje


“Quando a concepção de desenvolvimento do Brasil foi condicionada à aceleração do projeto de industrialização, a literatura infantil viu-se envolvida mais diretamente, a ponto de confundir-se com a meta proposta: textos foram escritos segundo o modelo da produção em série, e o escritor foi reduzido à situação de operário, fabricando, disciplinadamente, o objeto segundo as exigências do mercado.

“Essas exigências não eram necessariamente as do consumidor final – o pequeno leitor –, e sim das instâncias que se colocavam como mediadoras entre o livro e a leitura: a família, a escola, o Estado, enfim, o mundo adulto, nas suas diferentes esferas, desde a mais privada à mais pública. Por sua vez, elas se mostravam harmônicas e integradas, o que lhes permitiu forjar uma imagem de si e do país que figura ainda como uma página importante no capítulo da história das ideologias no Brasil [...]

 “É obliquamente que certos valores afloram: o pedagogismo, resultando na supremacia da personagem mais velha e das entidades através da qual ela se expressa, quais seja, a escola e a família; e o elitismo burguês. O mundo adulto representado coincide com a situação dos grupos economicamente privilegiados, isto é, os que podem sustentar férias no campo, excursões à floresta virgem, comprar terras no interior e animais de raça, etc.”

(Marisa Lajolo e Regina Zilberman)
Literatura infantil brasileira: história & histórias, 1984
do capítulo “Entre dois brasis”, pp.119-120.

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