O'ABRE ASPAS com Ilustrações Comparadas
Começo a pensar que gosto bastante de peixes
ou tenho me tornado repetitivo no título das postagens, pois já escrevi e mostrei como deram os peixes a voar nos livros de literatura para crianças [aqui]. Agora recebi e comecei a ler CÉU DE FUNDO DO MAR e outras histórias, um lançamento recente de Janaína Michalski, bolsista de criação literária pela Funarte/Ministério da Cultura, com ilustrações de abertura de capítulo e delicadas vinhetas de Aline Abreu (Autêntica, 2015). É a capa, no entanto, que honestamente me pesca e me enreda na imageria de André Neves confabulando espelhos e sonhos para AH! MAR, um texto de 1985 escrito por Bartolomeu Campos de Queirós (RHJ, 2007) [leia+].
Mas, vejam: esses peixes que se levam na cara das personagens, também me fazem lembrar de uma descrição arguta de Alice Vieira. Tive minhas tias-avós espanholas, Maria, Petra, Escolástica, Isabel, Lola mas nenhuma que fosse Josefa. No entanto, minha mãe vivia cantando (ela também se repetia, quando encontrava alguém de espírito amuado) que às vezes andávamos à moda de Josefa “Pepa” Bandera...
Pepa, no me des tormentoOra, uma broma era o que era porque é una canción (como dizer?) muy hortera [aquí] y [aquí]. Bendito seja! Voltemos à literatura – O’ABRE ASPAS* com Alice Vieira, em OS OLHOS DE ANA MARTA (Edições SM, 2005):
Pepa, no me hagas sufrir
Pepa, vivo de tu aliento
Pepa, y muero por ti [leia+].
D. Pepa usava na cara todos os produtos de beleza anunciados na televisão, e todos eram sempre melhores que os anteriores, “como no me dé cuenta antes?”, e todos eram milagrosos e prometiam juventude eterna. Lábios vermelhos, pálpebras verdes ou azuis, bochechas em tom de ocre e, para culminar a obra de arte, um artístico sinal muito preto do lado esquerdo do queixo. Às vezes D. Pepa ainda pegava num lápis e com ele fazia dois traços escuros (geralmente tremidos, pois a mão já lhe faltava) a sublinhar os contornos dos olhos. Então os olhos de D. Pepa pareciam peixes a navegar no mar colorido do seu rosto [...] ao olhar para ela, nas tardes de sexta-feira, só via peixes desenhados na poeira dos caminhos.* (Alice Vieira, 2005: 35-6)
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