11 de fevereiro de 2017

admirar não é segredo

peter O sagae


Querida Angela, deixei a ponta de uma página virada para não esquecer o poema onde parei e com ânsia de colo quero recomeçar a partir daí porque imagino algum eu sob os passos das formigas e apanho com o olhar apenas umas flores do caminho que é seu mundo familiar em cada verso casa pedra instante lírios pois um escriba o escreve branco: esse mundo (ai, ardil) cheio de perfumes presídios e é você quem nos enreda em beleza em minha tarde também exausta... ou será amor O CADERNO DO JARDINEIRO #edicoessm (2016) #angelalago #poesia

E recomeço por uma página à toa


e tonto com o seu respirar maduro e honesto porque não há nada na linguagem tão fiel à essência humana, seja macho fêmea bicho água fruto, que um poema e você sabe fingir à maneira de um prefácio

ou flores que veio oferecer através da distância a ninguém – mas logo sólido se torna como a figura de um leitor velho, novo, estranho. Todo o seu livro tem uma urgência de permanecer pois logo se acabará

como cor, maciez ou perfume de um verso preso seco esquecido entre as folhas de um caderno. Aqui uma fotografia no gesto da luz e o dedo a digital o pincel que realça o visível invisível quando andamos distraídos


pelo mato pela biblioteca pelo verde pelos livros que não colhemos. Angela, palavra que brota, eis a confissão do método: feito um clique de botão. O olhar a máquina a câmera o editor de imagens e de texto a câmara oculta de seus devaneios pela literatura ilustração filosofia o existir incompleto. Às vezes, o despontar de um novo botão de flor

toma ares apressado, porém sabemos é fingimento e maestria porque nenhuma dessas flores jamais existiu ou já não existe. É o signo de uma flor, em um caderno que não é caderno, não são verdadeiras as manchas da seiva que circulava por um caule fino. Mas são deliberadamente belas, são também outras transparências.


E talvez por isso esse feitiço de horto


onde as páginas não contam passagem alguma de tempo. E vou e volto. A ponta virada desvira dente-de-leão leitura que vai se espalhando aleatoriamente saltitante. Onde eu parei ninguém se importe, nesse passo, imito repito e faço eco dos seus versos: a semente se costura.

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