Peter O.ô Sagae
Ao dormir, você já sentiu a curiosa sensação de ser observado pelos olhos da noite? Eu já... Talvez não fosse apenas uma sensação, mas uma presença – o que não deixaria de ser bastante curioso se, então, você passasse a ouvir um murmurejo! E foi com a lembrança vívida que me abaixei meio rato, meio falcão para alcançar uma pequena brochura com sua capa de cor quase cintilante, a meus olhos, em uma feira de arte impressa, em meio a tantas outras oportunidades. Visualmente ouvia estes WHISPERS (Susurros), de Jim Pluk.
Trata-se de uma edição bilíngue que se fez publicar pelo Editorial Matera (Colômbia, 2014), na forma de caderno ou minilivro, no tamanho de um quarto de folha carta, com 24 páginas e impressão somente em tinta preta.
A narrativa em quadrinhos é bastante simples, direta e sensível. Começamos a ver um lugar distante nas dobras do mundo, uma casinha num pedaço de terra abaixo de montanhas e próximo a um braço de água que deságua em campo líquido – um lago, um mar, o que será que reflete o escuro do céu. É noite, naturalmente. Pela janela, a lua sorri para uma menina. Um cão dorme a seus pés sobre a coberta. Então, ouvem... Psssst!
A cabeça de uma mulher flutua no ar. Evidentemente, não tem corpo. Quando criança, vi muitos rostos assim, de vários tamanhos pendurados em nada, entre a cama e o teto do quarto. Você... não? E evidentemente a figura que se apresenta à personagem pode ler seus pensamentos, além de atravessar paredes. O pacto necessário é não sentir medo – e é isto exatamente o que acontece, ainda que médicos, tão chistosos nessas situações, digam tratar-se de uma breve ou leve esquizofrenia. Ninguém se assuste, se alguma alegria oferece a companhia de amigos que outras pessoas não podem ver ou sentir. Pares de pé que caminham sem corpo, sombras que atravessamos com as mãos, gatos com cinco patas, gnomos ou extraterrestres que tanto se parecem uns com outros, figuras com um olho vivo e um olhos vazado...
WHISPERS (Susurros), de Jim Pluk, traz um tema apropriado, porém incomum ao círculo de histórias que nos acostumamos chamar de literatura para crianças. Fantasmas que atravessam a janela e nos fazem mais felizes. No entanto, desaparecem com o tempo. Os dias e as noites se tornam vazias. As paredes já não têm sombras e o mundo tão cheio de gente nos faz concluir – tão certamente – como os humanos são enfadonhos. São muito racionais, diz o narrador. Concordo. Quase sempre, quando sinto a presença ou a saudade de meus amigos invisíveis singulares. E você?
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