CÍRCULO VICIOSO
Bailando no ar, gemia inquieto vagalume:
Quem me dera que fosse aquela loura estrela,
Que arde no eterno azul, como uma eterna vela!
Mas a estrela, fitando a lua, com ciúme:
Pudesse eu copiar-te o transparente lume,
Que, da grega coluna à gótica janela,
Contemplou, suspirosa, a fronte amada e bela...
Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imortal, que toda a luz resume!
Mas o sol, inclinando a rútila capela:
Pesa-me esta brilhante auréola de nume...
Enfara-me esta azul e desmedida umbela...
Por que não nasci eu um simples vagalume?
(Machado de Assis, 1878)
Soneto publicado na Revista Brasileira, junho de 1879,
e no livro OCIDENTAIS, lançado em 1880.
[aqui] uma bonita página com retratos e caricaturas
[aqui] grafia e aspectos notacionais estabelecidos
[aqui] reprodução do manuscrito, acervo APESP
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