— Realmente... — dizia para si o boneco retomando a jornada — como somos infelizes, pobres meninos! Todo mundo nos contraria, todos nos repreendem, todos nos dão conselhos. Se os deixássemos falar, todos se veriam no direito de ser nossos pais e nossos professores. Todos, até mesmo os grilos falantes. Eis que eu não quis dar ouvidos àquele Grilo agourento; quantas desgraças, segundo ele, estão por me acontecer! Devo encontrar também assassinos! Graças a Deus, nunca acreditei nem acredito em assassinos! Para mim foram inventados intencionalmente pelos pais para assustar os meninos que querem sair à noite. E então, se eu encontrasse assassinos aqui na estrada, deveria temer? Nem sonhando. Eu os encararia, firmemente: “Senhores assassinos, o que querem de mim? Saibam que comigo ninguém mexe! Calem a boca e vão cuidar de sua vida!” Falando assim, até parece que vejo esses pobres assassinos fugindo como o vento. Mesmo se forem uns broncos para não fugir, eu posso correr e acabar logo com isso...
Mas Pinóquio não conseguiu terminar seu pensamento, porque naquele momento ouviu atrás dele um leve farfalhar de folhas.
Virou-se para olhar e viu na escuridão duas estranhas figuras pretas vestidas em sacos de carvão que o perseguiam aos pulos e na ponta dos pés, como se fossem dois fantasmas.
//.
D’As aventuras de Pinóquio, de Carlos Colodi (1892) Capítulo XIV. Trad. Peter O Sagae. Um outro jeito de dizer #euavisei (2019).
//. Ilustração de Carlo Chiostri e A. Bongini para o Capítulo XXXII – Pavio e Pinóquio se veem com orelhas de burro (1902).
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