30 de junho de 2020

a espantosa realidade das cousas



☆ UMA VEZ chamaram-me poeta materialista,
E eu admirei-me, porque não julgava
Que se me pudesse chamar qualquer cousa.
Eu nem sequer sou poeta: vejo.
Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho:
O valor está ali, nos meus versos.
Tudo isso é absolutamente independente da minha vontade. ☆

Última estrofe do poema “A espantosa realidade das cousas”, de Alberto Caieiro (07.11.1915) que integra o livro Fernando Pessoa: O EU PROFUNDO E OS OUTROS EUS, com seleção de Afrânio Coutinho para a editora Nova Fronteira (1980) p. 174 #FiqueBem #AbreAspas2020

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