Vera Giaconi nasceu em Montevidéu e vive na Argentina, participando da #revistapuñado N.º 3 com o conto “Água gelada” — um precioso thriller de 2011 a respeito de Amanda e as duas filhas pequenas que deliberadamente se isolam no silêncio ruidoso de um canal de notícias na TV e nas conversas num idioma estrangeiro o qual a mãe não domina. História tensa e surpreendente (contudo, aqui me desvio sobre um arranjo de coisas que rapidamente particularizam o cotidiano e a própria personagem, ao mesmo tempo em que mentalmente confiro o que tenho em minha cozinha) —
“Amanda sorriu e olhou ao redor. A mesa estava cheia de vasilhas limpas e empilhadas. Havia formas de alumínio, um saco de confeiteiro, frascos de especiarias, colheres reluzentes. Também havia um medidor e uma fruteira com pêssegos, peras, morangos e cerejas que perfumavam o ar. Sobre a bancada, oito pratos de sobremesa, seis xícaras, o liquidificador, a batedeira, o pote de açúcar, a essência de baunilha, as ramas de canela, o chocolate e o queijo. Em quinze minutos tudo estaria no seu lugar. Em mais quinze minutos tudo começaria de novo: a hora do jantar se aproximava.”Dentro da #revistapuñado N.º 6-B, encontro um relato de viagem de Gabriela Aguerre, escritora também nascida em Montevidéu que se fez brasileira desde a infância. No inédito “Once upon in a blue moon” (2019), o deslocamento da narradora pelo constante anacoluto das frases e pelo intrincado mapa de Israel onde se pode ter a dupla sensação que atravessamos fronteiras estrangeiras, de cidade em cidade, quanto levar consigo o deserto interior pelo deserto de imagens novas, medos, lugares que não deveríamos estar, outros lugares perdidos no tempo. Afinal, o conforto seria um conto maravilhoso sob uma lua azul? Muito raramente...
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