7 de agosto de 2009

Em silêncio e seda




Como tecidas em silêncio e seda, três belas jovens atravessam a paisagem de antigas narrativas japonesas. São três histórias de segredos que começam quando uma moça vestida de quimono branco surge inesperadamente através dos campos de neve, uma princesa com o rosto escondido por um vaso foge pelos jardins de um palácio e uma tennin celestial vem banhar-se em um lago na terra...

Na lenda d' O Pássaro do Poente, Otsû é a moça misteriosa que pede pousada à casa de um aldeão. Parecia perdida por aqueles caminhos que a neve apagou e Yosaku aceitou sua companhia, por uma noite... Mais outra... E outra mais — até que um tempo melhor viesse e ela pudesse prosseguir. Mas não foi bem assim que a trama da convivência envolveu os dois, quando abriram as flores da primavera e do casamento feliz que tiveram. Para ajudar o marido, Otsû pediu um quarto com um tear e, durante três dias, ali permanecia tecendo fios e desenhos em seda — e Yosaku deveria esperar, sem procurá-la ou espiar seu trabalho...

A segunda história do livro de Lúcia Hiratsuka é um conto mágico, semelhante em estrutura e sonho à ventura das donzelas obrigadas ao trabalho e ao borralho. Hachikazuki é uma princesa que recebe a benção materna na forma de um estranho vaso posto sobre sua cabeça. Todavia, aos olhos do príncipe, não passarão despercebidas sua delicadeza, inteligência e sensibilidade.

A história de Tanabata possui diferentes versões que, muitas vezes, aproximam o conto e a lenda, em um só texto, e que se ligam intimamente ao Festival das Estrelas. É bem assim o comecinho: preso aos galhos de um pinheiro, Mikeran encontra o raro e leve manto de uma tennin e, cautelosamente, o recolhe e esconde. Mesmo quando a bela jovem, mergulhada nas águas do lago cristalino, pergunta-lhe se vira seu manto mágico, contando que não poderá voar, sem ele, de volta ao reino acima das nuvens, Mikeran faz segredo, oferecendo sua casa e companhia. Porém, tudo o que se guarda, um dia, é encontrado — e Tanabata recupera seu precioso hagoromo e o desejo urgente de voltar.

Estas três histórias tecidas em seda já haviam sido compiladas pela autora em diferentes volumes (Estação Liberdade, 1993 e 1995) de uma coleção, esgotada há um bom tempo. Reunidas em um só livro, as narrativas receberam novas roupagens em texto e ilustrações, compondo também nova unidade: em todas as três, é sempre uma promessa e a necessidade de perseverança que enredam os personagens, seus segredos e destino.


« Um dia, ao limpar a casinha dos fundos onde se guardavam objetos em desuso, Hachikazuki encontrou um velho koto. "Ah, que saudades da mamãe. Sempre tocávamos juntas." Dedilhou as treze cordas, fazendo soar o delicado som daquele instrumento. Logo, seus dedos pareciam se mover por conta própria, relembrando as melodias que tocava junto com a mãe. O príncipe ouviu aquelas notas. "Que linda música... Quem será que toca tão bem?" »

Um comentário:

  1. Realmente, são três histórias macias, leves,e lindas. Parabéns pel post. Muito bom!

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