Lewis Carroll
trad. Sebastião Uchoa Leite
Aventuras de Alice
no país das maravilhas,
Através do espelho e
o que Alice encontrou lá
Summus, 1977
ISBN 9788532300447
21 x 14 cm 280p.
Nalgum lugar lique Alice no país das maravilhas “é o mais estranho e fascinante livro para crianças jamais escrito”. Fiquei estoupeirado! Que grandefeito do livro, se jamais escrito, qual o leitor apto a comentá-lo? O susto esvaiu-se ligeiro, por sorte, ao lembrar-me de que realmente alguém pudera escrever o livro e mais alguns outros, Lewis Carroll! Manuscritas e ilustradas originalmente pelo próprio autor, as páginas de Alice's Adventures under Ground foram presenteadas à menina Alice da família Liddell, anos antes de sua primeira publicação em 1865. Assim temos ou podemos ter em mãos um livro certamente comentável e recomendável, o que talvez fosse o mesmo que dizer um livro altamente comestível. Pois: o que valeria um livro sem doçura ou doses de loucura?
Contudo, o elemento estranho e fascinante que ali se esconde tem outra qualidade para alguns leitores; não todos, é verdade. Há boatos espalhados nas caixas da teoria de que os livros de Alice vieram afastando-se do telescópio da criança, abaixo do microscópio do leitor adulto. E o qüiproquó da história: “só assim é, se lhe é assado”. E bem sabemos que um ovo só se parece com um espeto, quando e somente quando, a crítica quer. E muitas vezes ela consegue! Brejeiramente ou não, impondo a toda obra um regime de leitura que bem poderia ser chamada de ‘decodificação mecanicista’, em que o menor indício logo é senha para algo a ser (dês)prendido e revelado... Sabe comé uma corrida de comitê: um grupo de comentaristas molhados num círculo vicioso traçado no chão. A forma exata não tem importância, explicou o Dodô. Também não é preciso contar: um, dois, três e já! Todos começam a correr quando querem. E param quando querem, de modo que é nada fácil saber quando a leitura termina. À qual conclusão se quer secar?
Do lago dos livros de Alice, ora, foram pescadas já diversas interpretações alegóricas. Com um anzol social, chegam à tona botinas biográficas, extratextos históricos e histéricos, sem comprovação necessária. As obras de Carroll também emergem, quase sempre, com uma fisgada psicanalítica. É muito aquilo que se puxa. O perigo: “tudo pode ser suposto, quando se parte do princípio do sentido oculto das representações”, escreve Sebastião Uchoa Leite, no estudo introdutório que antecede sua tradução. “É realmente medonha”, murmurou Alice, “a mania que essas criaturas têm de discutir. É de enlouquecer qualquer um!”
Outros críticos, conscientes da armadilha que é o estudo da intencionalidade de uma obra, esboçam uma aproximação com o trabalho de L.C. através do que o próprio texto tem a oferecer em sua superfície. Porque menos enlouquecidas do que uma Lebre de Março, são as criativas apropriações de certas referências e estruturas lingüísticas — e a conseqüente desapropriação de seus sentidos originais. Atenção para um conjunto de expressões populares e idiomáticas inglesas, das nursery rhymes e outras cantigas tradicionais, dos poemas encontrados nas velhas cartilhas e de célebres escritores da época vitoriana. Ao ritmo da intertextualidade, impõe-se um jogo que abriga e obriga as palavras à transformação. Creia: instaurando novas proposições, o efeito de velhas palavras só poderia ser cosmético! Surgindo do caos, uma palavra desdobra-se tríplice entre suas qualidades materiais (sonoras e gráficas) e seu poder de invoca-ação imagética.
Contudo, o elemento estranho e fascinante que ali se esconde tem outra qualidade para alguns leitores; não todos, é verdade. Há boatos espalhados nas caixas da teoria de que os livros de Alice vieram afastando-se do telescópio da criança, abaixo do microscópio do leitor adulto. E o qüiproquó da história: “só assim é, se lhe é assado”. E bem sabemos que um ovo só se parece com um espeto, quando e somente quando, a crítica quer. E muitas vezes ela consegue! Brejeiramente ou não, impondo a toda obra um regime de leitura que bem poderia ser chamada de ‘decodificação mecanicista’, em que o menor indício logo é senha para algo a ser (dês)prendido e revelado... Sabe comé uma corrida de comitê: um grupo de comentaristas molhados num círculo vicioso traçado no chão. A forma exata não tem importância, explicou o Dodô. Também não é preciso contar: um, dois, três e já! Todos começam a correr quando querem. E param quando querem, de modo que é nada fácil saber quando a leitura termina. À qual conclusão se quer secar?
Do lago dos livros de Alice, ora, foram pescadas já diversas interpretações alegóricas. Com um anzol social, chegam à tona botinas biográficas, extratextos históricos e histéricos, sem comprovação necessária. As obras de Carroll também emergem, quase sempre, com uma fisgada psicanalítica. É muito aquilo que se puxa. O perigo: “tudo pode ser suposto, quando se parte do princípio do sentido oculto das representações”, escreve Sebastião Uchoa Leite, no estudo introdutório que antecede sua tradução. “É realmente medonha”, murmurou Alice, “a mania que essas criaturas têm de discutir. É de enlouquecer qualquer um!”
Outros críticos, conscientes da armadilha que é o estudo da intencionalidade de uma obra, esboçam uma aproximação com o trabalho de L.C. através do que o próprio texto tem a oferecer em sua superfície. Porque menos enlouquecidas do que uma Lebre de Março, são as criativas apropriações de certas referências e estruturas lingüísticas — e a conseqüente desapropriação de seus sentidos originais. Atenção para um conjunto de expressões populares e idiomáticas inglesas, das nursery rhymes e outras cantigas tradicionais, dos poemas encontrados nas velhas cartilhas e de célebres escritores da época vitoriana. Ao ritmo da intertextualidade, impõe-se um jogo que abriga e obriga as palavras à transformação. Creia: instaurando novas proposições, o efeito de velhas palavras só poderia ser cosmético! Surgindo do caos, uma palavra desdobra-se tríplice entre suas qualidades materiais (sonoras e gráficas) e seu poder de invoca-ação imagética.
Parabéns, Peter, pelos 10 anos do dobras. Louvo sua seriedade no trato com o universo da literatura infanto-juvenil (ou infantojuvenil, não sei mais). que venham mais 10, 20, 30... anos de dedicação ao livro.
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