Shaun Tan
trad. Isa Mesquita
A árvore vermelha
Edições SM, 2009
ISBN 9788576754664
24 x 31,5 cm 32p.
Ao olhar que não lê, a obra de Shaun Tan será apenas uma mensagem de encorajamento complementada com imagens aterradoramente belas, tal a força do código verbal, em sua dimensão assertiva. “Às vezes, o dia começa sem nada de interessante no horizonte e as coisas vão de mal a pior.” Se, então, se reconhece tratar do pensamento-sentimento de uma personagem de cabelos vermelhos, abrimos nosso próprio coração a um ambiente ficcional, novo, que as páginas ilustradas oferecem.
Há que se reconhecer também um caminho, além do começo e antes do fim: o espaço de uma estranha cidade fragmentada por cenários sombriamente expressivos, carregados de cor, indiferença e talvez símbolos — de um sonho que pesa nos ombros da pequena figura que vai adiante, cabeça baixa. Há que se reconhecer ainda o intervalo de um tempo que marca a passagem da solitária figura de um lugar a outro. Existe uma linha condutora e, assumidamente, o que se atribui ao livro é um estatuto de narrativa, uma poderosa narrativa visual.
Folhas secas caem do teto ao chão, no quarto da menina, onde o dia começa e começa também sua confissão. As folhas secas caem, preenchem o quarto e estão à sua cintura: a menina abre a porta e começa assim o seu caminho. Mas, por onde ela passa triste e distraída, nem repara uma folha viva de bordo vermelho, perdida que fica, a cidade sem a visão da menina. O leitor, ao contrário, é quem a encontra... Sempre. Os cenários se sucedem, sem razão ou sentido aparente, mas não tenho palavras para resumir o que sejam. Vamos cirandando ideias, criando meandros internos da cidade que vemos cheia de metáforas e sugestões.
Ao final do livro,
o fim do caminho,
o mesmo quarto —
“mas de repente lá está ela, bem na sua frente, luminosa e viva, esperando tranquila, exatamente como você havia imaginado”. Sim, a árvore vermelha — jamais citada verbalmente, além do título. Depois de tanto que se buscou, lá está ela: belíssima anáfora, em que a ilustração preenche o pronome! Mas, quanto tempo se passou? Um dia?
O intervalo talvez aí não se meça com palavras. Pois na base do experimentalismo de sua narrativa visual, o autor australiano afirma que o livro não carreia uma história a ser contada. Que a razão se aventure, consequentemente, com olhos para ver. A menina, de volta ao quarto, não parece mais menina: toda uma vida se passou por dias que se repetiram, repetiram, repetiram do começo ao fim...
A chave desta leitura está no meio do livro, nas páginas que ilustram a contagem do tempo. O enigma, na concha do caracol e no olhar-câmera que dá distância à personagem. Quão leve é a poeira, a poesia.
Há que se reconhecer também um caminho, além do começo e antes do fim: o espaço de uma estranha cidade fragmentada por cenários sombriamente expressivos, carregados de cor, indiferença e talvez símbolos — de um sonho que pesa nos ombros da pequena figura que vai adiante, cabeça baixa. Há que se reconhecer ainda o intervalo de um tempo que marca a passagem da solitária figura de um lugar a outro. Existe uma linha condutora e, assumidamente, o que se atribui ao livro é um estatuto de narrativa, uma poderosa narrativa visual.
Folhas secas caem do teto ao chão, no quarto da menina, onde o dia começa e começa também sua confissão. As folhas secas caem, preenchem o quarto e estão à sua cintura: a menina abre a porta e começa assim o seu caminho. Mas, por onde ela passa triste e distraída, nem repara uma folha viva de bordo vermelho, perdida que fica, a cidade sem a visão da menina. O leitor, ao contrário, é quem a encontra... Sempre. Os cenários se sucedem, sem razão ou sentido aparente, mas não tenho palavras para resumir o que sejam. Vamos cirandando ideias, criando meandros internos da cidade que vemos cheia de metáforas e sugestões.
Ao final do livro,
o fim do caminho,
o mesmo quarto —
“mas de repente lá está ela, bem na sua frente, luminosa e viva, esperando tranquila, exatamente como você havia imaginado”. Sim, a árvore vermelha — jamais citada verbalmente, além do título. Depois de tanto que se buscou, lá está ela: belíssima anáfora, em que a ilustração preenche o pronome! Mas, quanto tempo se passou? Um dia?
O intervalo talvez aí não se meça com palavras. Pois na base do experimentalismo de sua narrativa visual, o autor australiano afirma que o livro não carreia uma história a ser contada. Que a razão se aventure, consequentemente, com olhos para ver. A menina, de volta ao quarto, não parece mais menina: toda uma vida se passou por dias que se repetiram, repetiram, repetiram do começo ao fim...
A chave desta leitura está no meio do livro, nas páginas que ilustram a contagem do tempo. O enigma, na concha do caracol e no olhar-câmera que dá distância à personagem. Quão leve é a poeira, a poesia.
Esse livro é um ABSURDO!!! Obra de arte. Lindo o texto, Peter. Como sempre. Abraços musicais e todos!!!
ResponderExcluirFiquei interessadíssima no livro. Obrigada compartilhá-lo conosco!
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