25 de março de 2013

o tesouro da memória coralina

Mais três livros que Dobras da Leitura recebeu...


Menina, você sabe o que é ser “menina prestimosa e trabalhadeira à moda do tempo” como diz Cora Coralina? E o que era ser menina às vésperas de um novo século, em 1899, para você que nasceu tão agora após o ano 2000? Pois imagine encontrar um espaço na cozinha de uma velha casa, arear um tacho de cobre – você sabe o que é arear um tacho de cobre? – ralar coco carnudo e branco, fazer tarefas que só adultos sabiam fazer... Pois coisas assim habitam a memória afetiva de uma escritora pra lá de centenária e um cheiro doce exala ‘inda hoje de seus textos.

As cocadas, com ilustrações de Alê Abreu (Global, 2007), é uma crônica que se corta em losangos, desejos de noite, sonhos de dia com “as cocadas moreninhas, de ponto brando, atravessadas aqui e ali de paus de canela” guardadas no alto, tão alto, de uma prateleira na cozinha. Até quando foi preciso esperar?


No ritmo dessas mesmas leituras que se recomendam dos 8 aos 80 anos,
A menina, o cofrinho e a vovó, com ilustrações de Claudia Scatamacchia (2009) conta a história de uma velha que tinha filhos, netos e bisnetos, mas morava longe e sozinha porque “queria viver simples, sua vida, a sua maneira”. Preferiu a terra onde nasceu, lá onde suas raízes eram fortes.


Um dia, a velha decidiu trabalhar, fazendo doces antigos. “E começou. E mexe e vira e revira, acerta, faz e refaz...” Acertou o ponto, os ponteiros, o caminho de sabores que voaram terras e mares, até que ela achou por bem que era hora de comprar uma geladeira... Quando a netinha veio visitar a velha, também achou por bem ajudar a avó nas prestações: tirou o dinheiro do cofrinho e, algum tempo mais tarde, a velha que era Cora pagou o empréstimo com uma história, mais os juros de mora de seu grato coração.


Em Contas de dividir e trinta e seis bolos (2011), as ilustrações de Claudia Scatamacchia suavizam a lição da palmatória que transforma a vida de Zezinho em um verdadeiro suplício na escola da Fazenda Paraíso, ao mesmo tempo em que as imagens igualmente buscam amenizar a vida dos leitores através de um conto cavado a vocábulos pouco comuns no nosso dia a dia. Resulta daí um exercício editorial de estabelecer uma correlação palavra&imagem necessariamente estreita, como sugere uma nota ao rodapé: “A ilustração de Cláudia Scatamacchia mostra detalhes do texto. Descubra o que são canastras e dobros, por exemplo, observando os animais de carga.” Em que persistam os detalhes saborosos da narrativa coralina a respeito de práticas pedagógicas distantes e da própria infância, talvez, talvez, não seja lá um doce de texto para o paladar infantil.

P.S. Não deixe de espiar O’ABRE ASPAS abaixo ;-)

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