Há no mundo algum animal mais esperto que a Raposa? No Brasil, tem: um pássaro chamado Quenquém, danado, orgulho de toda parentalha de bicos, asas e penas. Pois esse Quenquém conseguiu vingar a honra daquele primo europeu, o Corvo que trazia um naco de queijo no bico, quando uma raposa o avistou, ‘tá lembrado? Pois o pássaro brasileiro, com muita lábia e ciência, embora tão perto do fim preso à boca da Raposa, não se desesperou e conseguiu escapar-lhe... Voando para bem longe!
É impagável a cena em que a velha matreira pensa passar uma decompostura em alguns meninos, como contou Câmara Cascudo, e Mary França transformou em miquinhos encarapitados na árvore, ao selecionar cinco histórias para a coletânea O MACACO FAZ DAS SUAS: um passeio pelo folclore, com ilustrações de Eliardo França (Global, 2007). Contudo, dá no mesmo, quando querem: meninos são dados às macaquices.
A segunda fábula fala do pequeno filhote de Rato que saí de casa pela primeira vez. Embora prudente, ouvindo os conselhos cautelosos da mãe, deixa-se enganar pelas aparências. Quem, afinal, será seu amigo: o Gato fofinho ou o Galo estridente?
O leitor, com certeza, estava esperando o Macaco... Ele mesmo só aparece quando perde uma banana no oco do tronco de uma árvore e dá a pedir ajuda aos outros: tenta o lenhador, o soldado, o rei, mais Rato, Gato e Cachorro – esse Macaco é mesmo atentado – e vai à Raposa e à Onça! Mas, como todos estão ocupados com a própria vida, o Macaco decide chamar Aquela-que-não-se-cansa e mete medo em bicho e gente...
Depois, em outro conto de esperteza, sem dar conta de seu atrevimento, o Macaco convoca a Onça e o Touro para um cabo-de-guerra. Ele gosta-que-se-enrosca de por à prova qualquer bicho, não importa o tamanho – e, pulando de página em página, na última história, o Macaco vira Rei dos Animais. Como isso aconteceu? Ora, pregunte para a Raposa, mais falastrona que eu ;-)
O casal França repete o sucesso de sempre: o texto de Mary anda leve pelas cenas enriquecidas com a reação dos personagens e as ilustrações de Eliardo investem nos olhares que revelam a natureza humana mascarada de animal. As imagens, aqui, se apresentam ora colorindo toda uma página, isolada do texto, ora em molduras e requadros que retomam a linguagem gráfica de antigos livros de fábula.
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« A Onça, vendo os cocos, quis saber a quem pertenciam. O macaco respondeu: — Os cocos são meus. Naturalmente, se a amiga não os quiser. A Onça falou que não queria saber de cocos. Desejava saber se o Macaco tinha visto o Bicho Homem. — Faz tempo que não o vejo — disse o Macaco —, mas já aprendi muita coisa com ele. »
* Comentários extraídos de Dobras da Leitura 47, agosto de 2007.
** Texto revisto em abril de 2013. Link revisitado em abril de 2016.
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