Berna, Zurique, Paris, qualquer capital ou outro grande centro urbano do velho mundo decifrado por pontes, no alinhavo generoso de um rio, pode ter sido o ninho de inspiração para o ilustrador suíço Patrick Lenz, autor de TOM E O PÁSSARO (Biruta, 2009), um livro de imagem narrativo extraordinário em detalhes e, ao mesmo tempo, muito simples na expressão com que abraça, leva e eleva os leitores.
Fazendo a vez de páginas de guarda, a imagem aérea de uma cidade sob as nuvens, indica um ponto de vista livre do narrador e o interesse dele por conduzir o leitor a uma feira a céu aberto, vivamente organizada. Lá, a câmera da ilustração procura o personagem, entre as pessoas, ambulantes, bicicletas, barracas de frutas, verduras, legumes, posicionando-se na altura exata de um menino. Tom é visto de costas, de mãos dadas a um senhor. Ambos caminham devagar e a aproximação é discreta. O menino veste calças claras e jaquetão roxo. Quando vira o rosto, nossos olhos encontram o perfil miúdo e delicado do menino.
O que é aparentemente apenas uma história em quadrinhos, revela a sutileza da linguagem cinematográfica na dinâmica dos recortes e movimentos. Então, súbito,
quando o menino congela os passos, a respiração suspensa – todos os ruídos de cena, ruídos sonoros e visuais à volta, desaparecem e o quadro é só amarelo. Carregado de subjetividade e iluminação, o leitor se vê, como o personagem, diante de uma árvore de pássaros exóticos – e Tom descobre o pássaro em uma gaiola, nem grande, nem muito pequena, à frente de seus olhos...
Patrick Lenz conta sua história de amizade e cativeiro. Em um mundo totalmente em desordem como é o quarto de um menino, o pássaro vem trazer a companhia muda e franca, até que um canto comovente entoa a amplidão dos caminhos semeados pelo vento. E o cantar do pássaro transforma-se em um contar por imagens. Tom entende imediatamente a narrativa...
e chora. É triste a hora, instante do desapego.
O que acontece depois é um ato de liberdade para o leitor interpretar a história, interpretando seus próprios sentimentos que completam a sequência das imagens. Há um limite do texto, como também há um limite das emoções que cada criança, ou jovem, consegue transpor de si ao personagem, olhando-o intimamente e sem medo para sonhar, ou sofrer, e voar, e viver.
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