Na ponta da pedra, a ovelha — e assim começamos a ler Branca, o livro de imagem de Rosinha (Paulinas, 2004). O lugar deve ser alto, muito alto, tamanha a concentração da personagem: os olhinhos quase envesgando para baixo. Será que ela pretende pular? Por quê?
Os leitores devem estar lembrados daquela outra ovelha que se chamava Maria e se meteu numa enrascada, no tempo em que não seguia o que queria o seu pé... Porém aqui os caminhos são outros, logo veremos.
Pois bem: virando a página, vemos pássaros que atravessam a folha de rosto — e continuam voando, vão passando por Branca sozinha no chão... Descobrimos, nesta pequena fábula visual, como a consecutividade vai sendo construída por aparentes saltos no fio da narrativa e no modo como ler as páginas.
Quase sempre, a paisagem é uma só. O tempo é um ou dois, três, vários, encapsulados pela imagem apresentada em página dupla. Rosinha brinca com a ilusão de movimento pela repetição da figura da personagem: em suas tentativas de voar, muita vezes, podemos ver Branca lançando-se para o alto à esquerda das páginas abertas e... bem à direita, a ovelha estatelada no chão! Assim, o trajeto do olhar deve coincidir, recuperar e completar o rastro invisível que Branca desenhou pelo ar. Três efeitos do tempo – ritmo, velocidade e duração – dependem do jogo entre o desenho e apreensão sensorial da criança.
Branca é uma história de persistência —
e existe uma poesia sugerida no ar...
O leitor há de encontrar novamente a cena da capa. A ovelha, na ponta da pedra. O que acontecerá depois, seria magia, sonho ou realidade?
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