23 de maio de 2017

observe o desenho

Peter O.ô Sagae


Dois cômodos anexos, vistos do alto, em perspectiva... eles são feito a letra E, com apenas quatro paredes e janelas (uma externa, outra interna). Você pode desenhar isso, seguindo minhas palavras? Talvez sinta falta de outra parede, mas seu desenho iria se parecer com o número oito de um relógio digital, não sei. Seu desenho deve ter um chão, um piso, mas não escolha colocar um telhado acima, não, não ainda. E há uma porta “redonda” na última parede que vemos, repetindo: você deve fazer o seu desenho em perspectiva. Treine e coloque a porta, como sói acontecer, abrindo passagem para longe, como se fosse atravessar o fundo do papel. É possível? Treine sua percepção, antes de prosseguir o próximo parágrafo. Use uma régua, e não um compasso. Um lápis. Uma borracha. E vamos começar outra vez: dois cômodos anexos como se fossem um E...


Observe seu desenho – ou projeto de desenho, construção, e verifique se o estranho sólido figura como solto no espaço branco do papel. Use sua capacidade máxima de abstração e imagine-se, veja-se, como uma linha vermelha tão maleável e frouxa como deve ser uma linha que deixou o carretel para trás. Então, você – isto é, a linha em que você se transformou, vai se projetar por este espaço virtual. Sua missão: entrar ao centro da primeira janela para dentro do cômodo, passar a segunda parede e alcançar a porta na última parede que temos no desenho em perspectiva. Agora você-vermelho atravessou o fundo do papel. Foi possível, com certeza.

A linha de sua imaginação se projetou para outro espaço, além da primeira página. Ávido, você deve estar ávido para alinhavar o próximo desenho. Qual seria?



Pois brincando com retas e a ilusão da perspectiva perfeita, a perspectiva renascentista, Catarina Abreu Sabino provoca nossa observação por espaços que só poderiam existir em nossa mente e no desejo do desenho na superfície do papel. Arquiteturas melindrosas e melífluas compõem ESPAÇOS FLUTUANTES (2016) que convidam o olhar a pastar a transparência vegetal do pergamenata naturale, lentamente, e então descobrir, nesta viagem, o humor das coisas insólitas.


Para não deixar o espectador totalmente desamparado, a autora e artista visual deu-nos uma linha vermelha para amarrar um espaço a outro, uma admiração a outra e a possibilidade de pensar: fossem assim os labirintos e os parques de diversão!


P.S. Talvez você me pergunte o que isso tem a ver com livros para crianças... Respondo: alguma coisa tem. Conceitos e formas de localização, raciocínio espacial, geometrias inventivas, non-sense e virtualidades como linguagem.

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