2 de novembro de 2013

era uma vez outras vozes

Peter O’Sagae

Nenhum texto vem ao mundo estranhamente só. Acompanha-o,
em sua ventura, outros tantos textos em um rumoroso movimento
por trás das palavras a enfrentar. Não, por vezes, causariam mais impressão
que um cicio quase silencioso, vento, ou fazendo-se ouvir carinhosamente
como um afago parente... Transparente, o coração borda imagens e pensamentos
naquelas lembranças que não gostaria de sentir, mas quer. Sentir.
Porque precisos são os duelos da vida, obedecendo a uma causa maior...

“Era uma vez um herói e esse herói era meu pai.”
Qual vento que imita a voz de todos, dos contos maravilhosos
ao depoimento pessoal, o narrador funda-se aí juntamente
a outros narradores, distantes, a um personagem em primeira pessoa,
ao possível autor do texto, ao leitor que aceita a palavra do outro
a representar sua própria voz, advogado seu.
Que venha defendê-lo dos duelos da vida...

Rosa, minha amada irmã, Rosa Amanda Strausz
traçou com as imagens de Rui de Oliveira as linhas do grande combate e
da morte iminente de um herói sob os olhos guerreiros de seu filho.
As circunstâncias móveis do narrador, menino, revelam
a dimensão mágica e épica do pai capaz de lutar sozinho contra mil inimigos,
qual cavaleiro de pesadas armas leves na vitória dos tempos passados.
Mas outra batalha diariamente acontecia e minava as forças e formas robustas,
dentro do homem, entre exércitos invisíveis de vírus e anticorpos...

É bonito o cenário que a imaginação evoca a fim de transpor
os sentimentos aos lugares onde se tornaram verdadeiramente invencíveis.
Do quarto à sala de um pequeno apartamento, o mundo alarga-se
por encontrar janelas de compreensão sobre o sentido de viver,
de encontrar o pai e o filho no conviver e compartilhar, reviver e não se revoltar.
“Quando morremos, nosso corpo se desfaz
e se mistura aos outros elementos da vida...”


Nos minutos que não deixam de cavalgar
a favor da aventura derradeira, o conceito de imóvel diz menos respeito
aos pés e braços, à cabeça, lábios e olhos, ao corpo inerte, um dia.
Imóvel é o que não pode ser movido por coisa outra nenhuma,
nenhum outro, sentimento, ser, substância, o Amor
que não se fará diferente além do tempo, porque, a ele,
sentimento revestido de eternidade, o tempo não existe...


Um canto: histórias se inventam no contraponto às vezes, aristotélico, apostólico, por que não, nas mensagens que transformam O HERÓI IMÓVEL (Rovelle, 2011). Os textos sempre vêm e se veem, a cada leitor, na discreta escuta da trajetória palavra e imagem.

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