29 de novembro de 2018

correr todos os riscos


Era uma vez...
— Um rei! — logo dirão meus pequenos leitores.
Não, crianças, vocês erraram.

Era uma vez um pedaço de madeira. Não era uma madeira de luxo, mas um simples pedaço de lenha, daqueles que no inverno colocam-se nas estufas e nas lareiras para acender o fogo e para aquecer os aposentos.

Não sei o que aconteceu, mas o fato é que um belo dia esse pedaço de madeira foi parar na oficina de um velho marceneiro, cujo nome era mestre Antônio, mas que todos chamavam de mestre Cereja, por causa da ponta de seu nariz, sempre brilhante e vermelha como uma cereja madura.

*
De AS AVENTURAS DE PINÓQUIO, versão integral do texto clássico do escritor italiano Carlo Collodi, com tradução e ilustrações de Gabriela Rinaldi (Iluminuras, 2002) p. 11. Escreve Silvia Oberg, nas orelhas do livro:

"Muito diferente dos super-heróis de hoje, Pinóquio não tem poderes especiais — não pode voar, não enfrenta os inimigos com força descomunal, não tem inteligência privilegiada. Pinóquio é apenas um boneco de pau feito por mãos humildes, vivendo entre pessoas pobres, enfrentando a vida e, algumas vezes, se dando bem mal. Mas Pinóquio tem um coisa que o faz especial: teima em seguir seus desejos e para isto vai correr todos os riscos."

"Em um outro livro que escreveu para crianças, chamado Histórias alegres, Collodi conta suas lembranças de infância e convida seus leitores a adivinharem quem era o aluno mais preguiçoso, mais agitado e impertinente da escola. E revela seu segredo: não era ninguém mais a não ser ele mesmo! Assim, compreendemos um pouco a força do boneco Pinóquio por ele criado: Collodi era um Pinóquio de carne e osso..."

"Este boneco de pau desafia as convenções e os valores estabelecidos, porém o grande desafio que enfrentará será o de realizar o seu desejo de crescer, de não ser mais apenas um boneco de madeira, mas transformar-se num menino de verdade, transformar-se em gente. Este desafio parece não ser só o de Pinóquio, mas o de todos nós. Talvez, por isto, sua história continue sendo lida, relida, contada e amada por crianças e adultos, resistindo ao tempo e alimentando nossa busca por humanização..."



Carlo Collodi, pseudônimo de Carlo Lorenzini (29/11/1826 - 26/10/1890).

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