18 de julho de 2020

coração de tinta



☆ JÁ HAVIA ALGUNS ANOS, ele confeccionara um pequeno baú para ela carregar os livros prediletos em todas as viagens, curtas e longas, para lugares distantes e não tão distantes. “É bom ter os próprios livros quando se está num lugar estranho”, Mo dizia. Ele mesmo sempre levava pelo menos uma dúzia.

☆ Mo pintara o baú de vermelho, vermelho como uma papoula, a flor preferida de Meggie, cujas pétalas eram ótimas para prensar entre as páginas de um livro e depois carimbar na pele uma estampa com a forma de uma estrela. Na tampa, Mo escrevera, com lindas letras ornamentais, Baú do tesouro de Meggie; dentro, o forro era de tafetá preto-brilhante. Desse tecido, porém, quase nada se via, pois Meggie possuía muitos livros prediletos. E, a cada nova viagem para um lugar diferente, um novo se juntava aos antigos. “Quando você leva um livro numa viagem”, dissera Mo quando ela pôs o primeiro no baú, “acontece uma coisa estranha: o livro começa a colecionar lembranças. Depois basta abri-lo, e você já está de novo no lugar onde o leu. Tudo volta, já nas primeiras palavras: as imagens, os cheiros, o sorvete que você tomou enquanto lia... Acredite, os livros são como papel pega-moscas. Não existe nada melhor para grudar lembranças do que páginas impressas.” ☆☆


 Do livro de Cornelia Funke, CORAÇÃO DE TINTA (2003) com tradução de Sonali Bertuol @companhiadasletras (2006) @editoraseguinteoficial p. 22 #FiqueBem #FiqueFirme #FiqueEmCasa #AbreAspas2020

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