30 de janeiro de 2015

qual a cor do verão?

Peter O’Sagae


Kumiko Yamamoto mostra-me que é o vermelho escuro delicadamente pousado na sombra entre as fibras do junco no tatame, cor preguiçosa entre os dias e as noites quentes de agosto no Japão. Com o bonito livro ilustrado À PROCURA DE MARU, trad. Rodrigo Villela (Edições SM, 2009), a autora requer do pequeno leitor toda a atenção à narrativa visual que se estende da capa à última cena. Viveremos aí uma tarde intensa de chuva! Mas... é preciso conhecer a história de Takeru, desde o começo...


O menino dorme em um espaçoso quarto com seu cachorro. Um ventilador está ligado e o incenso ainda queima, pois o verão sempre traz muitos insetos para dentro de casa. Abrindo o livro, encontramos ele ao lado da mãe, esfregando os olhos, à espera de uma fatia de melancia. Somente o pequeno animal parece bem desperto...

Na primeira página dupla, Takeru sentado à porta de casa saboreia a belancia de polpa doce e suculenta, os olhos fechados, descalço, os chinelos na soleira, as roupas no varal... E tem a bola de futebol, os girassóis, a mangueira d’água, um vaso de barro vermelho, a grade e o muro, e um gato passando tranquilo na calçada, uma borboleta sob o olhar atento do cãozinho. O texto verbal complementa a cena, como uma legenda: “Numa bela tarde de agosto, Maru pula de lá para cá no jardim.”


Já o começo nos faz ver e saber um tipo de entrelaçamento palavra e imagem permutando informações, ora explícitas na ilustração, ora implicadas na narrativa, mas apenas possíveis no código verbal, favorecendo diferentes estratégias de leitura. Qual seria o detalhe ou o motivo que dá ação à história?

Maru, distraído, atropela, destroça o pezinho de cosmos ou beijo-de-moça que o Takeru havia plantado no vaso de barro vermelho. O menino esbraveja, o cão desaparece de vista, mamãe acha estranho: “Onde será que ele se meteu?” Mas o coração de Takeru é aquele tanto de indiferença, até que nuvens pesadas vão se acumulando ao longe...



As ilustrações com contornos em pretos e o vermelho único intensificam a história que então se conta: um menino buscando o seu pequeno amigo pelas ruas da cidade abaixo de uma tempestade de verão. Porém, ele não o encontra. Onde será que Maru se meteu?

Com ilustrações realizadas em litografia, À PROCURA DE MARU foi destaque na exposição da Feira Internacional do Livro Infantil de Bolonha, em 2003. Kumiko Yamamoto retratou sensivelmente um modo de vida contemporâneo, por isso mesmo tradicional e urbano, simples, oriental e ocidental sem divisões. Como as páginas avulsas do kamishibai ou teatro de papel, as cenas ilustradas oferecem-se à exploração e aos comentários dos leitores em roda, em um jogo entre narração oral e imagem num dia de chuva, ou apenas sol, para conhecer esta história que revolve os sentimentos de raiva, carência, arrependimento, desejo de felicidade e reencontro. E... depois do banho quentinho de ofurô, dormir. Afetos belamente expressos. Circularmente.



*
Texto revisto e ampliado, a partir de uma resenha para a Bibliografia Brasileira de Literatura Infantil e Juvenil 2009, da BIJ Monteiro Lobato de São Paulo. Imagens adicionais: Médiathèque Roger Gouhier.

27 de janeiro de 2015

'tá chovendo na roseira?

peter ô.ô sagae


Bate luz e um pouco de vento na árvore em frente à minha janela e me distraio. Estico o braço até a estante. Na letra R, encontro Rosa Branca no cercado e um jardineiro que a vigia. Bem de perto. E já sei o que está por vir. Uma narrativa rápida e poética em sua dupla estrutura: a montagem linear como uma parlenda enumerativa, sobre uma estrutura circular que a voz do narrador esconde, revela ao meio do texto, bem ao meio.


A história começa em um dia que o jardineiro amanheceu gripado de tanto que andou descalço tentando encontrar os sapatos que um gato... escondeu! O gato veio com o irmão mais moço do jardineiro que... era casado com Dalva que... tinha um tio na família que... morreu de desgosto, por conta de uma carta de amor que... nunca chegou porque caiu da sacola do carteiro, quando ele se abaixou para pegar um anel do chão. O anel de latão que a costureira atirou pela janela, recusando-se a casar com seu noivo de bigode ridículo...

E assim vai, anda a roda e tanta coisa mais. A estratégia da lengalenga é tão bela e tão velha que nem mesmo Drummond escapou de fazer uso para a sua ‘Quadrilha’ (1930), inspirando, por sua vez, textos e mais textos como a lírica de ‘Espinho na Roseira / Drumonda’, de André Abujamra (1995).


Um fato puxando o outro. E Rosa Branca fugiu do cercado? Roger Mello sabe que TODO CUIDADO É POUCO! (Companhia das Letrinhas, 1999). Alguém sussurra que ela sumiu do mapa e, carregando consigo a rosa-dos-ventos, fez o mundo perder a direção do caminho. Cada coisa... Conversa! No meio do texto, o narrador pede – Mas espera um pouco... e a história desanda à roda: nada do que aconteceu realmente aconteceu porque Rosa Branca está dentro do cercado.


Brincando com a construção e a desconstrução do texto, o que era simples linearidade ou sucessão volta-se sobre si e circularmente transforma a narrativa em uma experiência espacial. Tudo volta atrás... Ou seria para a frente? O jardineiro vigia Rosa Branca. Zeloso, sem desviar o rosto, bem de perto. É uma prova que a vida é mesmo assim, tá sempre no eixo, no mesmo e próprio lugar, mesmo quando parece não estar.

Mas, digo eu, espera um pouco...
E se começasse a chover?

22 de janeiro de 2015

esperando a chuva

com Peter O’Sagae


A dúvida me envaidece, leva-me adiante entre as coisas do dia a dia. As boas conversas, os bons textos, parecem começar sempre com uma pergunta simples... Lembro uma vez que Silvana Gili aqui esteve no gabinete de idéias* e perguntou se eu conhecia a literatura do uruguaio Germán Machado; devo ter respondido nenhum verso – e ela, pouco depois, tirava de um bolsinho o pen-drive contendo uma cópia do livro VER LLO VER, com ilustrações de Fernando de la Iglesia (Calibroscopio, 2010), conduzindo-me a outra experiência de leitura, a uma dobra possível da poesia latino-americana.

A simpatia sobre o título – com o singelo material sonoro da paronomásia encapsulado visualmente na capa do livro – foi imediata. Ver um verbo contido no outro faz ‘ver e rever’ uma emoção, um pensamento, toda uma cena, um ritual, porque quase sempre paramos para ver o céu e o mundo, antes, durante e depois de... chover! Há também um jogo, a montagem com as sílabas que ali vêm em parataxe: leio o título de cima para baixo, leio as letras brancas de baixo para cima, contra o fundo listrado colorido. A chuva e a leitura demandam a mesma expectativa.

O que encontro é uma obra programática bastante sensível, em que o tema não reduz o trabalho com a linguagem, seu ritmo, e a renovação do olhar e o animismo que desperta da observação de variados fenômenos da natureza. Germán Machado fala de gotas cheias de água e íris, a garoa, a neblina que esconde a rua, o olho do furacão que não vê nada nem ninguém, o desconforto de um domingo cinza, enfim, o poeta fala das possibilidades de observar e aprender a escolher o que se quer realmente ver, e saber comover-se com os fatos que completam a paisagem humana. É a chuva que cada um pode imaginar...

Para não ficar em dívida com alguns leitores, arrisco, arisco, uma tradução para o primeiro poema do livro. Pois começa com uma pergunta! Quem sabe, um dia, tenhamos mais Germán Machado em língua portuguesa?
VER
CHO
VER

Que cor tem o ar
e a água
e os assovios do vento
numa tarde de chuva?

Olhe para a rua e veja os gatos
refugiando-se debaixo dos carros,
abrigando-se do frio
e da garoa fina.

Dependem de teus olhos
as cores.

E quando estás quieto
e te molhas
e uma brisa acaricia teu rosto
enquanto dizes:
vermelho, azul, amarelo,
gatos, carros, garoa à toa...
as palavras te emprestam as cores que faltam
no ar, na água, na rua,
nos teus olhos nublados,
surpreendidos.
[Germán Machado, 2010]
trad. Peter O'Sagae, 2015

P.S. Após publicada a postagem, informou o autor a tradução de Ver chover por Ana Busch, publicada através do selo infantil da editora Casa Amarela.

18 de janeiro de 2015

não qualquer palavra

O’ABRE ASPAS de um livro a outro


“Preocupada com as crianças que atualmente recebem tantos rótulos (e mesmo diagnósticos) negativos – hiperativos, impulsivos, desatentos, indisciplinados, entre outros –, Gloria Kirinus propõe uma mudança de enfoque. Para ela, a criança é um ser em estado puro de linguagem e é preciso escutá-la melhor para perceber os ‘sintomas’ de criatividade e inteligência que estão por trás de um comportamento à primeira vista inadequado.” Expõe Angela Leite de Souza no primeiro capítulo da série que compõe o livro POESIA PARA CRIANÇAS: conceitos, tendências e práticas, org. Leo Cunha, no qual participam juntamente Carlos Augusto Novaes, Gláucia de Souza e Maria Antonieta Antunes Cunha. “Uma das causas desse descompasso estaria no fato de que o fascínio que a criança sente pela palavra e pela multiplicidade de imagens que ela lhe suscita costuma ser reprimido na sala de aula.” (2013: 22-23)

II

“O que eu pediria para pais e professores é que, entre espaços e horários fechados, deixem a porta entreaberta para a escuta da poesia.” É o que responde Gloria Kirinus, no livro SYNTHOMAS DE POESIA NA INFÂNCIA, observando e refletindo sobre casos de rimite aguda, delírio verbal, estado contemplativo, devaneio crônico, analogia intensa, isolamento fabuloso, surtos de genial ingenuidade, abundante riso, acesso de perguntas e catapora inventiva... “Quando fechamos a porta da sala de aula ou qualquer outra porta da vida privada, ocupando todos seus vazios, normalmente bloqueamos também a possibilidade de escuta da poesia. Pais e professores de crianças pré-alfabetizadas teriam muito a ganhar se soubessem receber a poesia de viva voz, aquela poesia que inventa seus ritos recuperando a unidade do homem primordial que cantava e dançava a palavra. Não qualquer palavra, mas aquela que pulsa no ritmo de sístole e diástole numa intenção de se organizar no mundo.” (2011: 68)


III

“Agora que caminhamos para o fim, quero lhe contar um segredo e fazer uma confissão.” Escreveu Elias José, nas páginas de POESIA PEDE PASSAGEM: um guia para levar a poesia às escolas. “Antes, eu tinha um caderno de poesia com espaços para cópias e anotações, vários cheios. Hoje, tenho programas no computador para copiar tudo o que leio e gosto. Gosto de enviar cartões, cartas e e-mails com poemas, meus e alheios. É uma forma bonita de presentar e até de elogiar os amigos. Poesia bonita é para ser multiplicada, distribuída, com nome do autor, editora e sem erros. Que tal entrar em mais esse jogo gostoso?” (2003: 97)

17 de janeiro de 2015

naquele dia, naquela noite

Peter O’Sagae


Na poesia de Gloria Kirinus, quase sempre encontro um diálogo com as formas e as forças da natureza, as montanhas, os desertos, as chuvas, a lua e as estrelas, através de seu olhar de contemplação e espanto, como quem se habituou a buscar nas paisagens o caminho para as lembranças de casa, a sua primeira casa.


E assim cores e saudades despertam com o texto O GALO CANTOU POR ENGANO (1997), em uma nova edição com aquarelas vibrantes de Cris Eich (DCL, 2014). Em versos livres, ritmo brando, o poema narrativo começa com as dúvidas e a estranheza de um dia que virou noite.

Foi o sol que se escondeu atrás da lua para um descanso, ou foi a lua que ocultou a imensa cabeleira do sol com seu manto de prata? O que teria acontecido, seria o fim do mundo que começa com a escuridão?



Naquele dia, naquela noite, enfim, até as crianças deixaram a sala de aula para ver o que se passava: um extraordinário eclipse, com seu manancial de estrelas e a lição de um alfabeto diferente para descrever os antigos mistérios do céu. Mas... Com a confusão, também os animais trocaram o dia pela noite, extravagantes, dobrando suas tarefas: a galinha botou um novo ovo com clara em ponto de lua e o galo cantou, por engano.


Gloria Kirinus divide o poema em três partes – um dia de dúvidas, uma noite de invenções e o estabelecimento de novos modos de olhar, sentir e pensar a ordem e a transitoriedade das coisas no mundo. Contudo, não são três momentos distintos. Existe aí, contra o fluxo do relógio, a simultaneidade, o jogo dos pontos de vista, as analogias, o eclipse que celebra o encontro dos opostos rotineiros, o humor como solução. Tudo é interlúdio, e não haverá enganos para quem aprende a cantar poesia!

16 de janeiro de 2015

o passado e os nossos dias

Um novo ano + poético para você!



Olhar para a paisagem e fazer-se estrada. Bem assim, Angela Leite de Souza cruzou o tempo e os lugares habitados para fazer, escrever e ilustrar, entregar aos leitores UM VERSO A CADA PASSO: a poesia na Estrada Real (Autêntica, 2009). Já o título refere-se aos vários caminhos que uniam as antigas terras de Minas Gerais aos portos de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia a fim de levar ouro e diamantes rumo a Portugal à época do Brasil Colônia.

Ao pé do caminho, a autora vai cruzando as histórias de que se lembram os homens, dos cascos de boi quanto à ferrovia, as cartas e os sacos de sal, os assobios e os cheiros do mato, os sinos das cidades, a geografia e a múltipla ocupação, as casas que vão ficando plantadas próximas aos rios, e as freguesias, e as fazendas, os milagres e os mistérios, os nomes e as lendas de cada lugar...


Com função referencial e informativa, sem sombra de dúvida ou descanso, é poesia didática que traz notícias de longe e a linguagem de antanho, revelando em versos um pouco de antigos costumes e sua atualidade. O livro é essa espécie de museu vivo compartilhando a visão e o sonho dos exploradores, tropeiros, bandeirantes, brancos e negros na poesia da Estrada Real.
“Porém é certo
que há um feitiço
sob essas pedras
nesses portais
dentro dos templos
por entre os ouros
pelos beirais...
Por isso os nomes
e sua história
saem dos livros e por encanto
ficam tão vivos.”

 Esse  livro, conta Angela Leite de Souza, foi o resultado de cinco anos de pesquisa e trabalho - feitura dos poemas e depois ilustrá-los com a técnica que vem desenvolvendo desde 1994, com bordados e colagem em tecido.

14 de janeiro de 2015

dentro da alma

O’ABRE ASPAS, crônica com poesia


Eu gostava de pensar como sou corajoso, nos finais de tarde. O céu vinha cinza carregado de nuvens e vento e logo caíam uns pingos grossos, de tanto em tanto, duros e gelados. Tocavam os meninos a correr. Até hoje o som de trovoada me agrada como o som de uma artilharia de água do Céu contra a Terra, eu estava lá... Talvez fosse emboscada, tão certa quanto a hora de buscar o cavalo. Ainda o vejo. Um tordilho velho com a pelagem branca, cinzenta, manchada, as quatro pernas negras. Ele era a própria imagem da Tempestade.

Alguns anos depois, quando lia os versos de Henriqueta Lisboa que, por todas as letras do seu nome só poderia ser uma pessoa antiga o bastante, me intrigava pensar se escrevia conhecendo-me. Ela tinha a resposta que eu daria em casa...

“Eu não sou feito de açúcar
para derreter na chuva.
Eu tenho força nas pernas
para lutar contra o vento!”


Sei que versos são imagens, cadência e pensamentos que passam dentro da gente, e essa leveza cor de chumbo, assim que a chuva chega batendo o tropel, leva-me para longe. Abandono as leituras com alegria. Já não sei como resenhar. O granizo desce no verão.

Atrelo assim a vontade às palavras de Renata Farhat Borges, apresentando a mais recente edição de O MENINO POETA, com 66 poemas, prefácio de Bartolomeu Campos de Queirós e um estudo em pós da poeta chilena Gabriela Mistral. Para colecionadores de todas as idades.
 Em 1941, Henriqueta Lisboa, poeta mineira com quem Mário de Andrade manteve uma de suas mais ricas correspondências, recebe do modernista uma carta, pela qual esperou por dois meses, com o seguinte comentário: “são simplesmente um encanto pros ouvidos, pros olhos, pro corpo todo. O menino poeta, isso achei maravilha integral”.

Os versos a que Mário se refere, aqui reunidos em edição especial, foram publicados pela primeira vez em 1943 e marcaram para sempre a história da literatura infanto-juvenil no Brasil. Embora, como definidos pelo próprio modernista, não sejam feitos para criança nem tampouco versos interessados, os poemas milagrosos em ritmo, melodia e encantamento coincidem com a imagem da infância, cheias de pureza, cristalinidade, alegria, melancolia leve, graça e sonho acordado.

São poemas da plenitude da poeta, que encantam a todo leitor, de qualquer idade.

A obra foi apreciada por escritores contemporâneos da autora e pelas gerações seguintes, crianças, jovens e adultos que, como Mário de Andrade, encontraram na poesia de Henriqueta Lisboa acalento para o menino poeta que mora e brinca dentro da alma.

Murilo Mendes, logo após a leitura do livro publicado, assim escreveu a Henriqueta: “O menino Murilo gostou muito dele”. Que o seu menino se encante também.

Um novo ano + poético para você, com
Henriqueta Lisboa, O menino poeta: obra completa
Ilustrações de Nelson Cruz (Peirópolis, 2008).

12 de janeiro de 2015

André, outra vez

Dobras da Leitura recebeu


Reencontro André morando agora em São Paulo, mas ele deverá estar passando suas férias pelo interior de Minas Gerais, onde nasceu. Isso porque é janeiro. Se ele, que é hiper-urbano e rural, não perde um feriado qualquer para se meter no sítio dos parentes, imagine se não iria correndo para lá durante esse verão, buscando histórias para recontar...


Quer descobrir que graça há em ficar esperando assombração abrir a porteira, em dias de chuva, ouvindo o tamborilar das gotas no teto e o galinheiro despencar lá fora? Acompanhe, então, as viagens de André nas páginas de Histórias mal-assombradas do CAMINHO VELHO DE SÃO PAULO, com bolinhos de chuva para comer em uma tarde durante a Quaresma, e através das Histórias mal-assombradas de PORTUGAL E ESPANHA, na companhia de três tias excêntricas no feriado dos Finados – quarto e quinto volumes da série de Adriano Messias, com ilustrações de Alexandre Teles (Biruta, 2008 e 2010).


Leia também as resenhas para os volumes iniciais da série:
* Histórias mal-assombradas em volta do fogão de lenha (2004)
* Histórias mal-assombradas do tempo da escravidão (2005)
* Histórias mal-assombradas de um espírito da floresta (2006)


10 de janeiro de 2015

amanheceu

Um Ano Novo para todos os dias!


Hoje é um pequeno livro ilustrado, poucas palavras, desenhos que parecem inacabados. Hoje, porém, esconde brechas, esquinas, dobras e novas perspectivas para o leitor. Hoje é um dia para aprender a olhar diferente. HOJE...


Niki amanheceu aborrecida, mas hoje ela boceja borboletas.
Cristina, triste – mas as lágrimas que vem de seus olhos fazem florescer um jardim. Alice, inquieta – mas seus cabelos curtos e os pensamentos enrolados, hoje... esticam-se à conta de cinco balões de gás. Antônio, com dor de cabeça – mas o canto de um pássaro hoje parece despertar a música que deseja sair de seus ouvidos para acalmá-lo... E Ana, coçando as costas terrivelmente!
O que pode, então, acontecer?

HOJE é o primeiro trabalho de Eva Montanari feito especialmente para os leitores do Brasil (Jujuba, 2014), mas o segundo título da autora italiana que pude traduzir, após MEU PRESENTE (DCL, 2012) e incluindo ADIVINHA QUEM VEM PARA O JANTAR? (não publicado até 2017). Hoje apresenta uma narrativa espacial, através de uma série de eventos estranhos que se dão em simultaneidade, a despeito da sucessão das páginas, ou dentro de um brevíssimo intervalo de tempo, como correr os olhos para dentro de portas e janelas das casas, e descobrir histórias, quando não se corre distraidamente pela rua...


Como está o mundo à sua volta? Hoje tem poesia, transformações, caminhos
que se quer escolher. A principal imagem deste livro ilustrado é para mim, hoje, um verbo que contém em si o fio condutor, tempo passado e presente, denotação e metáfora: amanheceu. Uma luz para uma centena de anos. Hoje, como sempre, é mais um dia em que tudo pode acontecer...



Indicação de livro para as férias das crianças
Revista da Folha, 7 a 13 dez. 2014
Escolha da jornalista Gabriela Romeu