De José Jorge Letria, OS ANIMAIS FANTÁSTICOS, poemas do autor português ilustrados por seu filho André Letria (Peirópolis, 2008), edição apoiada pela Direção-Geral do Livro e das Bibliotecas do Ministério da Cultura de Portugal.
Brincando com certo efeito de proximidade que a linguagem verbal oferece, o poeta abruma e arredonda o discurso em nossa direção — e os animais míticos ressurgem falando da própria origem, originais. Por vezes, as criaturas igualmente parecem ganhar algumas distâncias como se pudessem desaparecer frente aos olhos do expectador, sutilmente, nas entrelinhas do texto... Letria escolhe, pois, os lugares pouco explorados do Mito-continente para os seres transformarem-se ou darem volta à paisagem, altivos em dez ramos de luar, às portas da madrugada, à sombra do mistério, passando por versos tal cavalo com asas numa veloz cavalgadura.
As imagens que José Jorge recupera, à saída dos poemas, são uma ilustração da memória dos tempos — e vemos a humanidade toda desfilar suas criações e confabular destinos, espelhos, veleiros, florestas, lendas medievais e mediterrâneas, antigas e gregas. São fragmentos, bestiário e passagens de sonho, metáforas e verdades: que tudo no livro reúne-se bem com palavras — e André Letria, com toques de ilusionista, em espessa e colorida textura, refaz o desenho das extraordinárias criaturas. Seus olhos perseguem o passado à esquerda, esgueiram-se até o leitor... Há beleza nas sombras que o relevo produz, revelando a face humanamente mística desses animais.
* Texto extraído de Dobras da Leitura, março de 2009
* Visitar a exposição Os Animais Fantásticos
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