15 de agosto de 2011

quando é que a língua estala

peter o’sagae


A poesia de José Jorge Letria tem rima, sotaque e aquele ritmo da melhor cantoria: não é fado, mas é fatal: é aquele estalo da língua: portuguesa, com certeza, com invenções e sutilezas que deslizam do léxico simples e vário para os vários sentidos da palavra sobre a mesa, sobre a página impressa, sobre a ideia de quem lê José Jorge Letria sem pressa. Ou mesmo apressado pois o poeta recita e receita trocadilhos, delícias e surpresas. É o estalo da língua que deve estrelar na leitura em voz alta, alta memória, metalinguagem, literatura e história. Tudo é brincadeira, extravagância e tem um quê mais inteligente para dizer. Queres um exemplo? Vai aqui apenas um ponteio do que Letria apronta:

Disse Cabral
a Pêro Vaz de Caminha:
“Queres um pêro
para comer à noitinha?”
Respondeu o cronista:
“Vou comê-lo antes
de ir para a caminha.” [...]


O LIVRO EXTRAVAGANTE e outros poemas, de José Jorge Letria, tem organização de José Santos e ilustrações de Taísa Borges (Peirópolis, 2010).

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