6 de julho de 2012

IV


O livro de Angela-Lago atualiza o jogo e o velho ritual, não apenas na linguagem especial das adivinhas, expressa nas falas da Divinha e de Louva-a-deus. A brincadeira amplia-se para as imagens que completam frases, substituindo palavras pela presença dos personagens, objetos, elementos da paisagem e demais ações da narrativa.

Se a escrita é um desenho, a autora não se faz de rogada ao jogar com a diagramação das letras sobre a página: são as vogais das palavras ‘rei, ‘soldado, ‘capitão e ‘ladrão’ que puxam a corda que prende os pretendentes pelo pescoço; a palavra ‘montanha’ é diagramada de tal forma que obriga o olhar do leitor a subir pela frase; aparecem sete ooooooovos enfileirados com a letra O e há muitos outros recursos que coloca o livro todo em movimento.


Forma e conteúdo se encontram na felicidade de um livro que não é meramente um livro, mas um artefato, objeto de papel invocando o teatro: é a presença da moldura que não fecha o foco apenas sobre o palco, mas abre espaço para o público entrar em cena, participando da torcida e da expectativa. É também o gestual do flagrante, a entonação da voz, humor e ritmo, sutilezas descortinadas a cada página virada.


* Peter O‘Sagae, em Dobras da Leitura 1, abril de 2000. Publicado anteriormente com o título “Um enigma na teia de estórias: a princesa que adivinha” In: O Balainho - Boletim de Literatura Infantil e Juvenil. São José SC, (3) : fev. 2000. Texto revisto e ampliado em 2012.

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