Três livros para jovens leitores, por Peter O’Sagae
Poeplano, de Dilan Camargo (Projeto, 2010) com ilustrações de Ana Claudia Gruszynski. O título do poema “A musa e o mouse” bem resume o programa poético do autor em sua obra: novos contextos para uma voz que ressoa virtualmente através dos tempos de amor juvenil, dos primeiros queixumes às cantigas contendo estribilhos: “Você não me fere com a mão/ me fere com seu olhar de distração.” E o respiro que se ouve, e se sente, longo, discursivo, como se palavra fosse laço para prender os sentimentos de alguém. Versos que aqui recorto é língua que não estala na boca, apenas na tela: “Você é um voce/ sem circunflexo / um pequeno ome/ sem H e sem M/ um ser sem nexo”. Dilan propõe dilemas e fugas, entre viver e esperar, conversas de MSN e chamadas de SMS que se perdem, controle-delete.
Ao fim de 96 páginas, a dúvida: se haveria algo mais breve, que versos ninguém esquece?
“Minha vida é ler
o nome na lista
o sangue na pista
os cacos de vidro
os brancos do livro
a febre de sentir
a ânsia de partir.”
Vagalovnis, de Antonio Barreto (Autêntica, 2011) com colagens de Diogo Droschi. Já o sumário se apresenta como Embarques, Escalas, Paradas, Baldeações... e os poemas adentram o leitor na noite renovada dos velhos plenilúnios, entre palavras comuns e esdrúxulas que os sapos coaxam, palavra-valises que aqui e ali se soltam, embaralhadas com os vagalumes e alguns neologismos. Este é o jogo, palavra-colagem, “quem somos nós?/ quem seremos?” para cada um buscalevar(-se) entre objetos voadores nau-identificados com a própria viagem. A poética de Antonio Barreto é uma teia de aranha que me entrelaça com a força do surrealismo e a velocidade de uma surrealesma.
“quando será
o minuto elétrico
o hipotético
instante
milimétrico
em que esse
milagre
poético
acontecerá?”
Pés de aragem, de Marco de Menezes (Bipolar, 2007). O livro não pertence a um catálogo de literatura juvenil, mas os versos que contém são extremamente joviais, no sentido da leveza que inspiram. O eu-lírico atravessa a rua difícil, a viela enlameada, a passagem improvável, mas, desde o primeiro poema, desperta milonga, uma estrela turquesa, luas pequeninas e confessa com zelo e felicidade as cantigas que espia de cada janela entreaberta. Penso, qual poema dar a um jovem leitor? Marco de Menezes utiliza palavras e efeitos de cores, aliterações e cintilações fotográficas que entram pelos poros e ouvidos. A isso dá-se o nome de sinestesia, o que provoca insônia em olhares de pedra. E copio e colo inteiro, aqui um poema:
escritos a estilete
por cima das nuvens
uma luz mais branca
se inclinará rumo ao chão
de terra e pasto
até tocar a velha árvore
rente à árvore a luz
– filete de jasmim
em permanente branco –
soçobrará contida a cicatriz
o raso e o fundo
da figura irregular que abriga
desde a cor verde do passado
o teu nome e o meu
escritos a estilete
Nenhum comentário:
Postar um comentário