18 de dezembro de 2013

Papilio innocentia

peter ô.ô sagae*


Uma borboleta azul no céu de fogo floresce e logo me leva pelo caminho leve a um cenário de casas antigas como recortes de papelão, ...emergem as casas do extenso areal lá onde resta e paira um quê de memória atravessando as ruas e portas e janelas eternamente abertas defronte às bonitas fachadas decoradas com platibandas coloridas... “Nestes dias tenho aprendido muita coisa. Andava neste mundo e dele não conhecia maldade alguma... A paixão que tenho por mecê foi como uma luz que faiscou cá dentro de mim. Agora começo a enxergar melhor...”


Há uma menina de sombras e sonhos entre as LONGAS SOMBRAS AO CAIR DA TARDE, de Cris Eich (SESI-SP, 2013), um livro de imagem narrativo romântico que inspira histórias e volteios que nos aproximam da felicidade que se afasta nas asas de um vento ligeiro, que desperta o desenho de um jardim em uma parede azul: são flores ou apenas sombras de um perfume que exala do passado?


Ah, menina, menina, menina que quase toca com os dedos o belo inseto intacto vivo, mas adivinha, já não está tão sozinha quando, ao longe, vem a ela a esguia figura de um cavaleiro, um menino, um príncipe ou não sei quem ele era toda uma vez, toda uma vida. Espanto, encanto, o que sentiu, o que viu nele a menina? “Ninguém me disse nada; mas parece que a minha alma acordou para me avisar do que é bom e do que é mau... Sei que devo de ter medo de mecê porque pode botar-me a perder...”

E então ela agora, menina, corre de volta para um lugar que não há e, abrigando-se entre as árvores, no esconde-não-esconde da ponta da barra da saia que encurta o vestido, do colo ao pescoço, da ponta do nariz, com a borboleta dos pensamentos voando perto, tão perto da fronte e “não formo juízo como” a menina obrigou-se à fuga do menino ao cair de um tempo dourado, ao chegar de outras sombras extensas que o areal em ondas vai criando à maneira de manto e montanhas...


Ah, o que veio acontecer depois já não posso contar: é o espaço por onde virá a voar longa e longe a imaginação da criança ou do jovem, como os sonhos que brotaram de uma gota d’água sobre o papel, ganhando vida, encanto, espanto. As imagens do livro permitem diversos caminhos de leitura e interpretação – e vai ser bom você me contar as histórias únicas que ao entardecer descobrir.



* O'ABRE ASPAS para Visconde de Taunay ;-)

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