Gosto dos antigos filmes de Georges Méliès.
Suas imagens caprichosas piscam em minha retina e
sobrepõem-se à figura de Pedro, a cabeça desprendendo-se leve para o alto. Cabeça de lua. Na página em preto e branco, nanquim vertido sobre o croqui, nada se parece pedra, nem peso parece possuir... Todo leitor sabe como
é doce deixar-se iludir pelas palavras. No entanto, uma imagem poderia mentir diante de nossos olhos?
Não sei... A primeira dupla-página do livro de Odilon Moraes: PEDRO E LUA (Cosac Naify, 2004) é, pois, essa surpresa e interrogação. Para os leitores mais experientes, a obra pode ser tomada como uma sincera homenagem a Manuel Bandeira, Raimundo Correia e Carlos Drummond de Andrade, apenas para chamar atenção aos nomes de uns poucos poetas e autores de “Satélite”, “Plenilúnio” e “No meio do caminho”, respectivamente.
Pois no meio do caminho de Pedro tinha um livro, onde lera que a lua era
uma grande pedra flutuando no céu. Então, o menino todo se encantara! Encontrou, encoberta por algumas palavras, uma afinidade mágica, admirável e mítica, que o faria sonhar e seguir adiante... A cada noite, Pedro ia juntando as pedrinhas que ele mesmo cismou e concordou consigo terem caído do alto
e, com essa alma mais lá que aqui embaixo, foi subindo uma montanha e asilou todas as pedras para ficarem mais próximas de casa, a lua... O esforço rumo ao aparente inútil é, realmente, sempre belo.
E, no meio do destino de Pedro, outra pedra o fez tropeçar na felicidade
– uma tartaruga – tão bonita quanto uma lua esverdeada no golfão dos ares. Daí, o correto batismo: Lua.
Esta é uma história de amizade verdadeira. Mas, por quanto tempo, durariam
as pedras, o inalcançável satélite, a solidão e a saudade? Eis o outro encanto do livro, a descoberta e a afirmação que o essencial permanece invisível aos nossos olhos.
Peter O'Sagae
Peter, que texto lindo. Inspirado! Como o livro, que é maravilhoso. Adoro ler suas leituras. beijo
ResponderExcluir