Mário de Andrade
il. Odilon Moraes
Será o Benedito!
Cosac Naify, 2008
ISBN 9788575036778
encadernado/capa dura
21 x 28 cm 36p.
Comentar literatura é, muitas vezes, perder o texto ou só outra maneira de esquecer as sensações experimentadas durante a leitura. E justamente isso é o que eu não gostaria, pois ainda ontem chegou às minhas mãos a bonita edição que Odilon Moraes preparou a fim de acalentar a crônica de Mário de Andrade. Desejo permanecer lá, num flagrante do tempo na dobra das páginas. Desnorteado como menino que, nas admirações que a vida provoca, exclama “Será o Benedito!”, sinto-me obrigado a margear a narrativa para não comprometer a sua qualidade terna, mágica, tenra e doída que une os homens independentemente das várias idades e das épocas, se vivos ou ficcionais.
Pelas bordas assim, invento de prestar atenção à crônica brasileira que desliza entre os gêneros literários, sem lugar fixo entra a figuração do cotidiano e a ficção. Somente os suportes materiais poderiam servir-lhe de algum indicativo, como registro de um comentário no galope dos incidentes diários — Mário de Andrade foi um incansável cronista e publicou textos em jornais e revistas; Será o Benedito! se fez estampar primeiramente no “Suplemento em Rotogravura”, de O Estado de S.Paulo, no distante outubro de 1939, como homenagem ao Dia das Crianças — ou como um conto, curto e direto nas emoções que produz. Já não importa mais se a história é verídica ou não, quando compreendemos que a linguagem é o que dá de criar a narrativa, ’inda mais deslocada para um livro solo, especialmente ilustrado. Os compromissos do texto com o leitor tornam-se outros; exige recepção literária, e não a secção histórica à moda dos especialistas no assunto.
Exatamente também que a expressão “Será o Benedito!”, nas tramas do escritor, torna-se auto-referente: Benedito é o nome do menino-personagem com quem o narrador-de-Mário-de-Andrade estabelece franco e afetuoso contato — e, daí, resulta um sorriso nosso para o humor que pontua o texto. Será o Benedito? É o bendito moleque de treze anos que o narrador traz na memória, desde a primeira imagem que capturou do amigo:
“Achando graça nele, de repente o encarei fixamente, voltando-me para o lado em que ele se guardava do excesso de minha presença. Isso, Benedito estremeceu, ainda quis me olhar, ainda levou a mão à boca, na esperança talvez de esconder as palavras que lhe escapavam sem querer:
—O hôme da cidade, chi!...”
Com sua aquarela líquida de cores brilhantes, Odilon Moraes cria um homem da cidade, Mário-personagem, com a felicidade de um olhar em movimento cineMATOgráfico sobre o excesso que o cronista ocupava ante a visão do menino, ambientando assim o texto, bem mais que o reproduzindo. Toda crônica já nasce com um puro talento para ser imagem, como coisa que é instantâneo do pensamento. Crônica que vira conto, então, nem se mede. E Odilon ilustra o livro como quem está a dirigir um filme, criando antecedentes, câmara lenta e posteridade para as imagens da narrativa. A integração palavra&imagem é marcada por distâncias, reflexos assimétricos e solidariedade. Vejamos, ponto por ponto, essas idéias.
Pelas bordas assim, invento de prestar atenção à crônica brasileira que desliza entre os gêneros literários, sem lugar fixo entra a figuração do cotidiano e a ficção. Somente os suportes materiais poderiam servir-lhe de algum indicativo, como registro de um comentário no galope dos incidentes diários — Mário de Andrade foi um incansável cronista e publicou textos em jornais e revistas; Será o Benedito! se fez estampar primeiramente no “Suplemento em Rotogravura”, de O Estado de S.Paulo, no distante outubro de 1939, como homenagem ao Dia das Crianças — ou como um conto, curto e direto nas emoções que produz. Já não importa mais se a história é verídica ou não, quando compreendemos que a linguagem é o que dá de criar a narrativa, ’inda mais deslocada para um livro solo, especialmente ilustrado. Os compromissos do texto com o leitor tornam-se outros; exige recepção literária, e não a secção histórica à moda dos especialistas no assunto.
Exatamente também que a expressão “Será o Benedito!”, nas tramas do escritor, torna-se auto-referente: Benedito é o nome do menino-personagem com quem o narrador-de-Mário-de-Andrade estabelece franco e afetuoso contato — e, daí, resulta um sorriso nosso para o humor que pontua o texto. Será o Benedito? É o bendito moleque de treze anos que o narrador traz na memória, desde a primeira imagem que capturou do amigo:
“Achando graça nele, de repente o encarei fixamente, voltando-me para o lado em que ele se guardava do excesso de minha presença. Isso, Benedito estremeceu, ainda quis me olhar, ainda levou a mão à boca, na esperança talvez de esconder as palavras que lhe escapavam sem querer:
Com sua aquarela líquida de cores brilhantes, Odilon Moraes cria um homem da cidade, Mário-personagem, com a felicidade de um olhar em movimento cineMATOgráfico sobre o excesso que o cronista ocupava ante a visão do menino, ambientando assim o texto, bem mais que o reproduzindo. Toda crônica já nasce com um puro talento para ser imagem, como coisa que é instantâneo do pensamento. Crônica que vira conto, então, nem se mede. E Odilon ilustra o livro como quem está a dirigir um filme, criando antecedentes, câmara lenta e posteridade para as imagens da narrativa. A integração palavra&imagem é marcada por distâncias, reflexos assimétricos e solidariedade. Vejamos, ponto por ponto, essas idéias.
[continua]
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