
Roger Mello
A FLOR DO LADO DE LÁ
Global, 1999
ISBN 9788526006201
20 x 20 cm 36p.
A FLOR DO LADO DE LÁ
Global, 1999
ISBN 9788526006201
20 x 20 cm 36p.
Tem gente que já conhece o animal que aí está, na capa, mas tem gente que ainda não — por isso, me isento de contar o bicho que é. De fato, o divertimento deste livro é descobrir a sua identidade, caro leitor! Pois Roger Mello criou um personagem ambivalente, com traços e cores de cartum, exagerando algumas características, deixando encobertas outras, que, às vezes, torna-se quase impossível descobrir onde estão os olhos ou as orelhas. Dá para ver que tem pêlos ou patas com grandes unhas? Pode ser um mamífero, então? Que seja...
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Na seqüência das páginas, a influência do desenho animado é uma marca muito forte; e a imagem consegue congelar as posições mais engraçadas e mais escancaradas do estranho animal. Seu humor também oscila de alto e baixo, entre o estado mais alegre, espantado, esperançoso, derrotado e, novamente, entusiasmado, surpreso, sonhador e verdadeiramente sem forças... Por duas vezes, o pequeno personagem parece perceber a presença do leitor — no início, com ares de irrevogável tédio, como quem pergunta: “O que é que ’tá olhando, nunca viu?” e já no fim de sua desventurada história, como que pego no meio do movimento, de repente, virado numa estátua, mas aí já são muitas possibilidades de interpretação: Gulp! Hein? Que foi?
Os enquadramentos da página não estão fixos. A cada nova cena, o olho-câmera de Roger se aproxima e afasta-se do personagem, ao mesmo tempo em que vai cruzando três pontos de vista: (1) um plano que permite ver tanto o animal, quanto a flor de pétalas vermelhas e brancas; (2) um plano em perspectiva, quando o expectador vê somente o cálice verde da planta e a borda da ilha do pequeno mamífero pouco mais distante; e (3) um contra-plano que inverte este último. Como o personagem, não pára quieto, estica para cá, pula, deita e rola no chão, talvez seja mais fácil detectar as três relações espaciais pela presença da água que encobre a base de ambas as ilhotas, apenas de uma ou de outra.
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Toda página sempre traz uma surpresa, mas surpresa maior acontece quando o campo de visão é aberto para o leitor e somente o leitor compreende a situação tragicômica em que o pobre animal se meteu... Mas (como sempre), isso não é tudo. O final é ainda mais terrivelmente engraçado para quem descobre que esse personagem só podia ser um-... Ops!
Ambivalente nos traços, ambíguo nos sentidos que constrói com ironia, A flor do lado de lá é um jogo com o próprio suporte material: nas viradas de página, a flor permanece sempre do lado oposto ao pequeno e incurável animal. Mas isso, já estava estampado na capa:

Só não vale ler a quarta-capa,
antes de abrir o livro, ok?
antes de abrir o livro, ok?
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