comentários de peter o'sagae
Ninfa Parreiras
O brinquedo na literatura infantil: uma leitura psicanalítica (Biruta, 2008) 200 p.
Ninfa Parreiras conjuga literatura infantil com um olhar todo carinhoso sobre a criança e o brinquedo, mostrando-nos como se modificaram historicamente conceitos e costumes... Pois, se como a literatura, o brinquedo é uma invenção do adulto, de tempos quase imemoriais rumo à atualidade, tais objetos (ou todos os objetos?) materiais e imateriais vieram se tornando posse e reinvenção da criança. Com esta certeza íntima, a autora adentra os diferentes gêneros da literatura infantil, como a poesia, a narrativa em prosa, a narrativa visual no livro ilustrado e no livro-imagem, refletindo sobre a presença (e também a ausência) do brinquedo em textos que fazem referência e reverência a diferentes jeitos de conhecer e viver a infância.
O que se busca enfatizar é o efeito indissociavelmente lúdico e terapêutico que a literatura e a brincadeira possuem contra um cotidiano triste, cinza, muitas vezes perverso e fechado ao consumo sem consciência e a negação. Ainda que privilegie a representação e o jogo simbólico da leitura, Ninfa Parreiras vai concluindo em uma geometria de relações: “A literatura pode ser uma ponte entre a criança e a subjetividade. O livro pode ser uma ponte entre a criança e o brinquedo. O brinquedo é a ponte entre a criança e o mundo”.
Ninfa Parreiras
Confusão de línguas na literatura: o que o adulto escreve, a criança lê (RHJ, 2009) 184 p.
Cada capítulo aborda um tema ou aspecto diferente: livros-imagem, poesia, contos de fadas; ilustração; o exílio, a diversidade cultural; obras com temáticas africana e indígena, textos clássicos ou canônicos da literatura nacional e estrangeira... Num apanhado generalíssimo de ideias literárias, vem Ninfa Parreiras conversando sobre os labirintos que uma obra cria em sala de aula, afiançando que “o professor não deve ficar receoso de levar um livro que trabalhe com as fragilidades humanas” para junto das crianças e jovens (2009:159). Afinal, é necessário deixarmos o lugar de nossa acomodação — e a literatura poderá ser um caminho.
Com um jeito breve de contextualizar os assuntos, nomes e títulos de importância, a autora evidencia que tipos de conflitos apresentam-se nos textos, pontua aplicações pedagógicas e não lhe escapa nem mesmo uma sugestão terapêutica, tendo a leitura como processo de conhecimento do mundo e de si mesmo. É seu conselho-convite: “Entre fundo numa produção, porque superficialidade não combina com literatura.” (2009:11). Assim, com bem raras pinceladas de teoria literária e psicologia, Ninfa Parreiras procura dar lugar aos desterrados, seja na geografia de cidades e países, seja no mapa das afeições.
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