peter o’sagae*
Antes que eu tire a mesa, diga logo o que pensou: laranja pêra couve manteiga... porque é assim: com pressa, leveza e graça que Maria Amália nos conta um dia de feira, terça-feira, para esvaziar os bolsos e encher a geladeira! Neste livro, tem muito freguês bacana querendo chuchu a preço de banana! Vamos à rua feirar com o pão-duro, o diplomata, a metereologista, o médico, a veterinária e o economista — e bisbilhotar cada pechincha, sacola, dieta e cozinha ;-)
Do som ao sentido, vemos aqui simples listas de frutas, legumes, hortaliças e quejandos transfigurando-se em poesia com ritmo e ironia. Cada personagem tem hábitos bem particulares a nos preparar a curiosidade e o apetite. O pão-duro não aceita nada muito esnobe como uva rubi ou abacaxi pérola, açúcar cristal nem pensar; em sua casa, só entra mesmo comida estranha, sem riqueza: quer saber, a ameixa é seca; a alface, crespa, e a ervilha, torta! Já o economista tem por dieta ideal frutas e verduras de nome composto, como banana-maçã ou tomate cereja. O que vai na cesta básica do médico? A metereologista prefere bolinhos de chuva e acepipes do gênero... É uma viagem a seleção do diplomata, você pode imaginar quantos pratos e vegetais tem nome de cidade, país ou capital? Comida com nome de bicho é bem coisa da veterinária!
Por fim, uma breve confissão: tive o prazer de saborear toda essa brincadeira Laranja pêra couve manteiga, de Maria Amália Camargo (Girafinha, 2006), meses antes do texto virar livro. Tão logo li, vi que seu trabalho vai além de uma simples enumeração. Sua proposta não é fortuita, investe de humor o jogo que joga nossa própria língua. Metonímias à parte, catacreses de montão, no cardápio de uma clientela tão eclética mas... Quanto tempo ela levou para recolher e arranjar tantos nomes esdrúxulos do dia-a-dia? Não sei, não importa. A ilustração de André Neves, como sempre, com bons enquadramentos, cores fortes, recortes, texturas curiosas. Fica para nós-leitores, com certeza, a bela sobremesa de um projeto bem casado!
* Extraído de Dobras da Leitura 37: setembro de 2006.
Fiquei com vontade de degustar esse livro!
ResponderExcluir